domingo, 20 de setembro de 2015

Uma vida inteira

Disseram que morreste. 
Ainda não mo disseste. 
Ando às voltas com isso. 
Têm mo dito ontem creio
Noutros ontens também
Não é descaso meu. Não 
É isso; é outra coisa que 
Não me é dado saber só
Por isso não te respondo 
Não é fingimento; temos 
Conversado mas não sei 
Se o suficiente para que 
Dure o caminho que levo 
De atraso. Sabes é esse
O medo que trago: que 
O tempo conversado se 
Cale. Dizem-me cousas 
Cousas lindas de ouvir!
Palavras em cobertores 
Palavras beijos Palavras 
Inteiras Gestos terrenos 
E como é que eu estou 
Estou o quê? Porque o
Perguntam? Não o sei! 
Esse verbo tem o travo 
Do limão. Mas sei que
Viveste Vivemos Vives
Posso asseverar e citar 
Dias inteiros de tudo de
Mau de assim-assim de 
Bom. Uma vida. Inteira. 
E uma vida inteira não 
Cabe na única palavra 
Que ninguém sabe. 
Digam-me a única 
Que sabe a mel: 
Amou (inteiro). 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


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