terça-feira, 15 de setembro de 2015

A música calada

A nota reverbera solta da pauta 
E anuncia o silêncio sobrevindo. 
Não há dois iguais: precedentes
Companheiros, de tempestades 
Ou do apascentamento daquele
Que se tresmalha no fio diário e
As palavras foram caindo folhas 
Chão da tua árvore chegado era
Teu argênteo outono; dir-me-ão
Falavas e eu sempre a dizer que
Te foste calando vestido no som
Dos outros. Sinto falta a tua voz 
Não tanto no sentido de dizeres
Porque de há muito sobreleva o
Olhar a quem se tornou sábio; é
Do som da tua voz, tem seu eco 
Demiurgos a acalmar os ventos 
Dos caos a que chamo o medo!
E há o grande som que se abre 
No silêncio do peito é a concha 
Que achamos suportável e tão 
Raro esta se abrir do seu mudo 
O dentro da matéria mater. Por 
Isso se fez um profundo langor
Estival, estupor da estação sol 
Minando o vigor de cada corpo 
Nosso para que um por um se
Aquietassem e pudesses fintar
A noite que no entretanto baixa. 
A sala estava cheia do anfiteatro 
Dos rumores restolho vento risos
Guizos, zumbidos sinos a repicar
O maestro sentou-se. A orquestra 
Calou-se e quando adormecemos 
Partiste silencioso daquela noite.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


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