terça-feira, 28 de junho de 2016

Hoje

Para onde o dia?
Porque vertente
Seguiu só breve
O seu eterno vi
Foi de repente
Que adormeci 
Para onde eu
Então ido se
Parte ainda
Ficou aqui. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Logro

Um pedestal é o lugar onde nos colocamos 
Para que os outros não cheguem; pedestal
É o lugar onde os outros nos mantêm para 
Que não os incomodemos. É um desterro,
Altaneiro lugar enfeitado de inumanidade.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 26 de junho de 2016

Bem dizer

Bendigo o dia e sua erradiação solar 
E digo corpo beijo prazer e orgasmo
Como digo a alegria larga do sorriso
Como vejo telhados em fundo de rio 
Para onde desço escadas de casario 
Oiço nos pássaros matinais o relógio
De pulso livre e afastamos os lençóis
Redes de extração do pão seu forno
Em nossas bocas o alimento e mãos 
Oleiras recriando formas de sermos. 
E há passeios cheios vozes e palreio 
Balões de namorados em seus ares!
Velhos e netos em seu amparo cães 
Atrelados aos mais cegos de verem 
Cansaços disfarçados de euforia no 
Excesso a míngua e há odores vivos
De mercados cigarros café de gente 
De tão longe aqui tão perto. Pessoas
Livros que não lemos que têm nomes 
Que não sabemos. Bendigo não sei o 
Quê mas vou seguindo a conjugação 
Do verbo ir em suas formas reflexas
Onde invento dias de junho de amor.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Isto tudo

E o beijo trouxe-me aberto à planície
E pu-la toda em céu para que a visses.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Breve

Por ter acordado 
Talvez o sonhado
Ergo amargo o dia 
Aziago, tivesse ido
Ou te tenha ficado 
Nasceu inda agora 
O que morre afinal. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)




Losing game

Começo o fim:
Morro amanhã
No pleno verão 
Extremo ao sul 
Ermo ergo mar 
Alto sol é noite 
Até ser dia na
Areia macia e 
Percorro tua
Mão vazia e
Rumo norte
Meu asfalto
Chã lonjura
De invernia.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 22 de junho de 2016

O dia III

Saindo para lá do lugar de si mesmo 
Tropeçou no primeiro beijo e desejo 
Atendido fez-se perfeito todo o dia.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

O dia II

Talvez um dia venha a entender 
Porque fere tanto a luz Esta luz 
Da alegria do novo dia, aprumo 
Do meio-dia; gume que incide. 
No amanhecer, no entardecer 
Creio sentir amenidade. Invés
Estes doces colos da cidade:
Suas sombras alongada paz 
Que nos convoca tão antes 
De reclamarmos o ser seu 
Lugar dentro de nós. Esta
Só veste o que se despe. 
E só se despe quem no 
Andar vestido destapa
O conto meio a medo.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

O dia I

Perguntara qual a
Essência do mar? 
Infindo lugar meu
Onde cavalos de
Marinhos fundos
Correm arenosos
Tesouros d'ilusão 
Oiros sóis dobrões
Salvados d'amores
Partidos p'la metade 
Na louca tempestade
Dum desejo apertado
No estreito porto horto 
De baixo calado quando 
É alta a vaga do desgosto.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)


domingo, 19 de junho de 2016

Exílio

Supus ser esse o lugar onde 
Me pus, a frondosa paz que
Me propus, alegando gente
E demasia junta no carrego
O peso do mundo onde não 
Podia e desavindo errei um 
Longo caminho sem flores;
Tomei por paraíso um exílio 
Sul de que ainda não voltei. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Olhar de não ver

A matéria frágil é o nosso ponto resistente
Material inicial dum edifício fermento que 
Se ergue a cada passo incerto e julgado
Medo quando, em verdade, é assombro 
Perante nós mesmos porque tão vasto
É o mundo e todos tão pequenos que
Nos perdemos Talvez por isso iniciar 
O trazê-lo para dentro e vermo-lo
Sem que de fora fiquemos. Único 
Lamento seria olhá-lo sem vê-lo. 

(c) Filipe M.| texto e fotografia (2016)

Romance

Da rua nunca saído, traz o mundo consigo;
O mundo todo visto todavia de rua despido.
Narciso e Goldmundo, personagens de livro: 
Paradoxos diagonais; inconjuntos contrários. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

A vontade

Partir ficando 
Levar deixando 
Fomos voltando
No regresso idos 
Tão longe quanto 
Podíamos ir saber 
Voltar descaminho
Perdidos andámos 
O Irrespondível mar 
Nem um sinal donde 
A imensidão do nome 
Teu que perguntamos. 
Apenas teu novo nome 
Pedimos para chamá-lo 
Ainda que demore quem
Durma ouvir respondendo. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

A junta

Descer não é deixar de ser 
O parar tem movimento Há
No acabar vários começos 
Falar faz ruído de silêncios
Contrariamente ao comum
Dizer, o contrário d'avesso 
É justaposto o par singular 
Mais avisado é ver no meu 
Agir o que faço e desfaço. 
Ser do outro o mal, nunca 
O bem é descrer por jeito 
Que sou tanto esse outro
De que cego ando a fugir.


(c) Filipe M.| texto e fotografia (2016)

A fonte

Se não souberes o caminho 
Da água ouve seus rumores
Se não souberes o caminho 
Meu segue o da água Onde 
Ela correr, irei para a beber.


O incapaz

Falais d'aprumo tu biltre! 
Míope de vistas curtas e
Fátuo ser incapaz por do
Tamanho a míngua maior
Se fazer. Postura dizia no 
Seu acesso incontinente!
Da sua falta não há aviso
Assim é costume ao tolo!
Confunde um arroto com 
Gesto de urbana cortesia.
Fazes rasteiro homem tão
Alto quem não se rebaixa.
Assim, confundeis o chão 
Que os outros pisam com 
O tecto onde não chegas!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Um só céu

Céu intermitentemente breu a cor
O céu produz noite fingindo amor
O céu continuamente azul celeste
O céu destrói e confirma vésperas
A manhã e a cama a mesma que a
Proa altiva o mar espesso a quem 
Sofre fendeu o nó que lhes aperta 
O peito a mesma cama no mesmo 
Céu que me olha e olho eu a cada 
Um seu indiviso indevido céu; um 
Só basta a todos mas noite é dum 
É apenas a dor de cada um de nós. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 16 de junho de 2016

O meu tempo daqui

Nunca mais é-o só por enquanto. 
Enquanto contingência de eu ser
Daí que a cada dia mais o nunca 
Mais é maior quando na verdade 
Será menor porque a decrescer 
O meu tempo daqui e o parecer 
Muito é porque o quanto deste 
Viver não me é dado conhecer
Mas contrói ilusão de infinitos 
Tempos tua vasta eternidade 
A espera que desespera ser 
Lonjura minha humanidade.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 15 de junho de 2016

the becaming name

Sometimes we must undress our
sadness under the long sunset of 
some other's skin; that thin sand 
line of your sunny eyes; perhaps 
a joy sea embracing the shore of 
a warm veil: the becaming name.


(c) Filipe M. | Texto e fotografia (2016)

terça-feira, 14 de junho de 2016

Inominável

Pai o teu nome 
Palavra poema
Verso regresso
Abraço aberto. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Convergência

Procura o que 
Haverá de te
Encontrar...


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Inversão

Ponto inicial,
Parágrafo!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 13 de junho de 2016

O dia depois (II)

Há traineiras mortais nos teus olhos,
Timoneiro sem frota doca seca dum
À-beira rio onde ninguém ouviu que 
Afinal chamavas por ti Pelas ruas da 
Cidade onde hoje todos dormem foi 
Longa a noite vestida da alegria que 
Me emociona porque há tão grande
Generosidade em quem troca choro 
Por riso que deles aceitei as mãos e 
Fui rio e subi e desci todalas as sete
Colinas e no regresso a casa, acaso
Feliz, vi-te nestas mesmas escadas 
Onde faz agora anos te perdi ondas 
Que sofri e ouvi o teu nome e olhei.
Ainda eras tu e ali ainda fui eu que 
Subimos as escadas e dei a minha 
Mão e te subi e despi e fizemos do 
Amor uma alegoria do que poderia 
Dizer e dormi teu sono meu sonho. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

O dia antes (I)

Lisboa, cidade 
Menina bonita
Sê feliz agora!
Correi as ruas
Abertas perto 
Há beirais das
Janelas vistas
Vemos do teu 
Rio que sorris
Da alegria que 
A traineira traz
D'amor a faina
Marinheira teu
Estuário nasce 
Quando fizeres 
Do arco ao largo 
Um mar de palha 
P'ra chorares sem
Ser vista a saudade
De quem de ti parte. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 11 de junho de 2016

Desrazões

O amor termina pela mesma 
Desrazão porque começa; é
Uma inevidência Um mesmo 
Vaso os embarca numa rota 
Aberta: sem um donde para 
Nenhum e todos os lugares 
É vulgar prefácio e posfácio 
Atrelarem leituras primeiras 
E revisão da matéria amada
Pondo o ênfase na viagem! 
Mas esta por mais curta ou 
Longa que seja tem pontos 
De partida e chegada. Mas 
Quando um chega primeiro 
O outro segundo não será!
Entre o viajado e o viajante 
Há uma história e meia de 
Permeio. Este recolheu os 
Passadiços e o porto de ir
E vir seus próprios braços. 
O amante o embarcadiço, 
O amado apeado Diferem
Completado e inacabado. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Até adormeceres

E depois vieste ter comigo 
Dizer que foras feliz e que 
Me perdoasse mea culpa 
Sem sentido e disse que 
Podias ir o teu passo eu 
Amei teu amor errante
Nos braços teu redor 
Para te poder beijar 
Até adormeceres 
O medo que eu
Te fosse deixar 
Foi o contrário 
Tinha que ser 
Soube por ti 
Doce olhar 
Que o pôr 
Do sol ia 
Ser ires 
E ficar 
Eu na 
Paz só
Capaz 
De me 
Erguer. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 9 de junho de 2016

O tom devido

Envelhecer é um 
Lugar destinado
Assim cabemos 
Para sair jamais 
Bate certo com 
A flor do tempo
Que nos acolhe 
Em tom devido. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Esse homem

Haver um homem cujo
Nome sei porque com 
Ele disse o meu Nome
De pássaros de mares 
Inventados Às árvores 
Subimos para vermos 
Mais altos dias louros
Uns findam já noutros
Novos, para que inda 
Mais ledos te sorriam
Dias grisalhos velhos 
De nós vivos Nomes 
Por vós ditos Verbo 
Inacabado tu seres 
Este ser tão maior.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)




terça-feira, 7 de junho de 2016

Depois de ti

Rota, derrota, amarroto.
Não me imponho rumo. 
Escrevo rescrevo risco 
Arrisco porque depois 
De ti nada mais perco 
Tudo é ganho a idade 
Daqui a nada é velha
O silêncio é o direito
A nada supondo ser 
O lugar da paz que 
Invocamos depois 
Da guerra a carta 
Que terminamos 
Depois do beijo 
Que aguardo e 
Não veio ermo
A minha boca 
Este cigarro 
Que apago. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Nesga

O olhar ponderando infinitos teus 
Como uma ilha, todo dado ao mar. 


(c) Filipe M.| texto e fotografia (2016)


domingo, 5 de junho de 2016

Estupor

Há lá cousa melhor 
Que a brisa na cara 
A afastar por breves 
Instantes a vida que 
Nos escorre estival.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 4 de junho de 2016

Tarda

A manhã atrasa a tarde 
Demora a noite a tarde 
O sono retarda a hora 
De acordar porque se 
Atrasa no seu chegar. 
Não é que tenhas ido 
Tão-pouco cá vieste 
O esperar tem disto
Ser o último a ficar. 



quinta-feira, 2 de junho de 2016

Por teu canto

Sabes, não to posso dizer:
Hoje vi andorinhas no céu
As mesmas que vi ontem 
Dormir. Eram novas asas
Abertos desejos as aves 
Sobrancelhas. Duas em 
Teus olhos ali poisadas 
Esboços levantados só 
Por encanto cantadas.




(c) Filipe M. | texto (2016)

quarta-feira, 1 de junho de 2016

Junhos II

[teu aniversário meu natal]

Já te aconteceu ser 
Em grau maior esse 
Tamanho que dói o 
Que não podemos 
Conter? Respondo 
Que aind'agora eu 
Mesmo senti aves 
Inquietas no peito 
Todas elas do voo
Anseio meu amor.  


(c) Filipe M. | texto (2016)
(c) Nuno de Vasconcellos | fotografia (2015)


Junhos I

A infância não seria um 
Lugar donde venho mas 
O que trago zeloso Lavra 
Do dia de futuros contido.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)