sexta-feira, 31 de julho de 2015

Posfácio

Na rua onde 
Ia sozinho fui 
Da Rosa a flor 
Meu Dezembro 
Pleno de Outono 
E sorri o novo 
Caminho que 
Descubro aberto
Para ser o Abril 
Inteiro em ti 
Tu: meu amor.
Agosto morreu 
No dia último  
Do mês de
Julho. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)







quarta-feira, 29 de julho de 2015

Pomar

O pomar e suas árvores de frutos-de-mel-metáfora carregadas ou, duma certa forma, aquele o dia esperado; ou apenas o momento daquele dia. Desde então? Esse dia e o seu momento. Às vezes, esse dia nos dias correntes, muitas vezes, outras, nenhuma (vagamente uma verdade!). E somos muitos, para lá de tantos; cada um e o seu dia e dentro, marsupial, o momento que o parasita. Digo isto como se falasse de mim; como se falasse por ti e por todos os outros; digo isto como se fôssemos árvores; como se de todos os frutos da que foi do par primeiro primordial fôssemos o indesejado chão dos seus pés. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


terça-feira, 28 de julho de 2015

Calado

Há tempestades nos meus olhos. 
Altas vagas beijam o costado do rumo entortado; chego alagado e nas mãos trago peixes cansados e conto naufrágios que ouves calado. E depois, só depois, o sopro doce da tua voz a serenar o mar e a ira dos ares. O céu é agora um manto estelar que puxas p'ra me aconchegar e, um por um, todos os peixes do meu verde par por ti devolvidos ao seu líquido lugar. Foi então, às tuas mãos, que sucedeu adormecer. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Retrato

Não sou feliz; nunca fui feliz. Mas há tanta felicidade em mim. Nunca fui triste e há tanta tristeza em mim. Nunca fui nós e houve dias que não vivi só. Nunca morri e tantas vezes o fiz. Mas já estive aí. sim! No exacto dia em que te conheci. 

(c) Filipe M. | texto & fotografia (2015)

sábado, 25 de julho de 2015

Pesponto

Um passo 
De cada vez 
Dois talvez 
Por vezes 
Um atrás 
A refazer o
Que se desfez 
Passo e repasso
Dum lado ao outro 
O tecido gasto; nu
É desgosto que se
Veste a passajar o
Destino gasto com
Agulha e linha em
Próprias mãos 
Tomado para dar 
Pesponto à sobra
Afinal só é trapo velho 
Quem assim o quer.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)





sexta-feira, 24 de julho de 2015

Aind'agora

Sê feliz, aind'agora 
Nasceu o dia novo 
Podes ser par na 
Dança do sol até
Sua roda fechar 
Hora a que se vai 
Deitar para outro 
Lado do mundo 
Acordar; tempo 
Nosso de sonhar 
E por pior que o
Ontem tenha sido 
Este finda assim
Que a manhã do 
Novo dia novo
Despontar.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)





quinta-feira, 23 de julho de 2015

(VI)

Não virás. 
(Sei-o.) 
Por isso 
Te espero! 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015) 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

(VI)

(azuis fechados, 
envergonhados; 
azuis abertos; 
céus dados). 
Assim teus olhos 
E astrolábios beijos.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

terça-feira, 21 de julho de 2015

À porta

Habituamo-nos.
Falo do rumor 
Do eco da voz 
(Vasta assoalhada);
A rotina da chave 
A porta dos teus
Regressos a casa.
Desabituamo-nos 
Ao nosso regresso 
A nada; essa rotina 
Do vazio da tua voz 
Ausentada à partida 
Nunca mais chegada
Estranhamos a dor 
Como se um motor 
Que há em nós se
Ligasse pela mesma 
Chave que se pesa e 
Impede da ironia que 
Carrega em seu metal
Material fatal de se abrir 
Flor de chama magoada
E nós no jogo, no logro 
Na ratoeira de calarmos 
Que estamos e que nos 
Sentimos tão sós.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015) 

segunda-feira, 20 de julho de 2015

(V)

Produzo rios, 
Produzo mares, 
Produzo nomes 
E seus lugares 
E os meus eus 
Correm à
Margem
Dos teus
Paralelos
Sentidos 
Contrários. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


domingo, 19 de julho de 2015

Varanda

Já havia peixes mortos 
Quando o mar nasceu
E um dia um deus por 
Lá passou e devolveu 
O que nunca ali viveu 
E para que se vissem
Plenos nesse mundo 
Novo das rochas fez 
Camas de areia e deu 
Corpo de homem aos 
Peixes para que pelos
Seus pés assomassem 
Ao dia e defronte ao 
Mar percebessem a 
Ventura de nadar aquela
Imensidão líquida de céu
Espelho glauco do outro 
Que a todos nós encima.
Dizem pescadores locais
Que às vezes, antes do 
Dia raiar, vêem na baínha 
Da areia que se coze ao 
Rente do mar sinais (traços) 
Como se pés doutro lugar
Que não sabem explicar. 
Mais acima, no topo mais 
Alto do mundo, há um 
Menino-deus que os fica
A olhar saudoso de ali 
Voltar para com eles 
nadar e brincar o mar. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


sábado, 18 de julho de 2015

A roda

o centro calado
o que era de falar
o entorno falado 
o que era de calar

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Compasso

Quando o braço 
procura na alva
Espuma do pano 
O lado do teu corpo 
Que se encosta ao 
Meu e só me chega 
A cama crescida em
Seu tamanho sei o
Novo travo salgado 
Da rede que em vão 
Procurou pescado 
E o corpo dobra-se 
Em ponteiros sóbrios 
Que marcando as horas 
Que se fica acordado. 
Calado para nenhum 
Lado vou e cresço a 
Diagonal que engana 
O nado-morto do braço 
Cansado que desenha 
A compasso o raio do 
Medo em que se fica 
Parado e pequeno no 
Amor que se perdeu. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

Índice

Se letra é horta-caneta
Na palavra o alimento 
Livro é prato na mesa
As mãos por talheres
Olhos para ler
Ler é comer 
Devagar com 
Vagar e prazer
Comer é viver 
Com os dedos 
A página virar
Amar é parar 
Pôr marcador 
E fazer amor. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Hype

Gravata
Quando
A braços
Laçada
Laço é
corda ao 
pescoço ou a 
agonia do bolso 
No avesso vazio 
Bamba quando 
A-ver-se-não-cai
Górdio é aperto 
Em demasia
Nó é boda
Molhada se
Abençoada 
Fôra d'alegria
Nós-emboscada 
Voz acusativo 
Eu vacante 
Tu moinho de
Vento quando
Vento havia 
Olhar é isqueiro 
Amor ardente 
Disse-o primeiro 
quem fez luso o 
Oriente poesia
Sol é poente 
Letra é horta-caneta
Palavra da tinta colhida
Merda é impróprio
Merde é erudito
Gente néscia é 
Forte no carácter 
Gente boa é banana 
Split porque parvo
É metade dum só
Fato vestia e
Homens fazia
Agora é ato 
Ortográfico 
Que desato
Sem alegria
Que o cê do 
Céu lá fique 
Eternamente 
Porque com
Ou sem rima
Era sítio onde
Mais dia 
Menos dia 
Por fim iria.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)







segunda-feira, 13 de julho de 2015

Um novo céu

Vive-se diferente
Morre-se no igual 
Sorte dos crentes 
Que descem do altar 
Dos santos seu lugar
Contudo entre o céu
E a terra não há lugar 
Onde nos possamos 
Esquivar do atrapalho 
Do cansaço de serem 
Muitos os dias duma 
Só vez e ser a alegria 
De quando em vez e o 
Pão nosso falha tantos 
Dias nos dói hoje e se 
Muitos são em vida os 
Dias quantos serão os
De tanta eternidade? 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sopro

E nas cearas do que 
Vive há o sopro doce do
Vento que me vem acordar 
Para o amor que está a chegar 
Do alto mar e as mãos 
Ao largo gesto de nadar 
A busca de ti
Onda acabei 
Eu por me
Achar. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quarta-feira, 8 de julho de 2015

O cavalo

Percorri a longa rua 
A longa noite do dia 
Achando que me perdia
Não era rua a desmesura 
(Soubesse que me achava)
Era o começo do teu braço. 

(c) Filipe M. | fotografia e texto (2015)

terça-feira, 7 de julho de 2015

Contente

Preciso ninguém!
Ninguém é alguém 
Sem gente dentro 
Eu preciso de ti e
De toda a gente
Ser pessoa é
Ser contente 
Entre a gente 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)







sábado, 4 de julho de 2015

Gomos

Fomos futuros em gomos
Fome de tudo sermos
Entre o sonho perdido 
Há um sempre adiado 
E um outro inventado 
Somos o que mantemos 
Da fonte de que nascemos
No hiato do dia e da noite
Há pássaros encantados 
Florindo por fora as penas
Que por dentro trazemos 
Serena soma dos medos
É o sorriso que vestimos
Mesmo quando os olhos 
Digam que dos teus sou 
Apartado e que não vou 
A nenhum lado sem que 
Te veja imaginado ser e
Entre a luz promitente e 
O final do dia desistente 
Há um terreiro em nós 
Onde decorre a bravata 
Do lado nosso que ficou 
E essoutro que começou.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)




sexta-feira, 3 de julho de 2015

Sul

De todos o primo beijo 
Que abriu o desejo de ser 
Capaz de refazer areia e mar 
Para àquela praia a sul voltar
A tempo de calar a boca que 
Findou o que julguei começar.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2014-15)

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Giz

o voo da ave
no céu singrando 
o aberto velame
rumo a nenhum lado 
o olhar distante
nu tempo infinito 
o que é nascido
por verdade 
é a nuvens de giz desenhado
o ires deixou esta saudade 
por te a mar meu amado 
o não-ser jamais é sede 
da alegria do passado 
e fico deitado no adiante 
sou vento no barco parado 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)