sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O último rio

Porque não inventar um lugar 
Onde se chega por mar a ilha 
De maravilhas toda percorrida 
Em pés de algodão e da boca 
Soprado um vento estival que 
Dança a folhagem das árvores 
Das frutas doces dos pomares 
Favos de olhos de mel e uvas 
Da boca geram divinos vinhos 
Brindando taças de mãos que 
Se dão ondulantes nas searas 
Da pele de quem se namora e 
Demora no amor que se faz o
Prazer dos corpos sem venda 
De culpa e sob a luz prateada 
Da lua pagã que comanda as 
Marés as colheitas e humores 
E semanas feitas para nascer 
O belo é nu sentido da morte 
Que se cumpre no viver vida 
Inteira como ela se faz cada
Dia novo enterro do anterior. 
Sem dor viveremos contigo 
Rosto de lírios encanecidos 
Flores altas do teu cansaço
Regaço materno nos braços
Manto onde poisas o olhar e 
Divaga o pensar ou um avião 
Sem motor que transporta as
Coisas da alma em seu redor. 
Às vezes cabemos o mar ou 
O mar que trazemos cabe no 
Seu tamanho água de mar a 
Perder de sal ou doce somos 
No útero líquido dentro e fora
É quando peixes a respirar ar 
Se perdem para nunca mais 
Voltar. O mundo evapora-se 
E fica um charco e dizemos 
Lago a dizer chuva no estio 
Saber que sangram lábios 
Gretados; um último rio,
Que se abraça vazio. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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