domingo, 26 de fevereiro de 2017

[Imaginar]

No sopé da montanha o alto 

É tão alto visto cá de baixo e

Se me imaginar no cume ver 

O mundo é um rodapé onde 

Só cabe meu pé. Grande ou

Pequeno, alto ou baixo, sou

Um ponto de vista que olha 

A partir de si o entra e o sai

O eu Ser é gerúndio Sendo.

Nem Fui, nem Sou ou Serei.

Impreciso traço dum tempo.




Filipe M. | texto e fotografia (2017)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

[Finisterra]

Fui até ao fim do mundo
Descobrir-lhe princípios.


(c) Filipe Macedo | texto e fotografia (2017)

sábado, 18 de fevereiro de 2017

[Metades]

Fui e vim para me retrazer;

Fi-lo sem (inútil) o entender.

Estou aqui assim: ontem sim!

Estão lá nomes que dizem de 

Mim, o que andei a (des)fazer 

Quão grande de imenso viver 

E no entanto no tamanho dum 

Bolso coloco as mesmas mãos 

Que fizeram amor ou essas tuas 

Que me deram colo. Um instante 

O presente e pretéritos na frente. 

As janelas, que dão vistas, abrem 

Para trás; as portas que saem por

Onde um dia entrámos são chaves 

Que não abrem mais. Pensamento: 

Invenção; a memória, doce mentira.

A verdade onde não chegamos mas

Não faz mal: o mar que mata é o mar

Que faz sonhar! Sim, sei o teu nome e 

Todos os dias, ao dizê-lo ecoas o meu. 

Um nome, a mais bela invenção de Ser. 

E digo-o. Não porque existas ainda ou 

Já não mais, mas porque a enunciação 

Traz um corpo capaz de convocar o dia. 

O amanhecer e entardecer. Tão simples 

E leva uma meia vida a aprender e outra 

Meia a esquecer e diz tudo do nascer e 

Do morrer e por isso te beijo meu amor. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

[Das tuas mãos]

Há no ar o pó de caminhos, o turvo da 

Chuva, o difuso da irradiação solar, do 

Manto breu, pano estelar da noite céu.

Os cascos onomotopeia soa o tambor,

Ressoam ferindo o ar, arauto do medo

A chegar; lado nenhum há onde não vá

Erguendo maior que o ar, uma vela que 

Navega meu ser antes que o possa ser.

Centauro, vê no claro rio água de beber

Cuja fonte nasce da dor no flanco, tuas

Mãos, flor audaz, afagam o meu estado 

O de todas as incertezas, de hesitações 

Cavas que travam, que retardam e dizes 

Ser o contrário: passos atrás no balanço

De quem se agiganta, não dum tamanho 

Que nos aumente mas o preciso ver-nos

Como somos e das tuas mãos a água da 

Sede, benfazeja tua humana malga meu 

Bebedouro; cavalo alado este o homem 

Que que do medo sua cicatriz desenha 

O rio da travessia: água cursa novo dia!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

[Sorriso]

Sorrisos há que vencem escadas 

Rios desvios alturas e ventos dos 

Céus tectos de ilimitados sonhos

Galgam as pedras das lágrimas e

Desatinos, desvarios e aventuras 

Para seu olhar destino encontrar! 



(c) Filipe M. | texto
(c) Nuno de Vasconcellos | fotografia

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

[O diferente do igual]

Sim, trago inteiro 

Num tempo novo 

Este velho gostar

Cujo dentro afora

Tua voz d'outrora

Presente o modo

Indicativo de que 

Fui no passado o

Que agora futuro

E se o tempo não 

Tem tempo, já eu

Me faço outro no

Ser por igual jeito

Outra a condição 

Diferente no que 

Se te assemelha 

Porque de antigo

E moderno todos 

Por ter que haver

Antes no depois!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

domingo, 12 de fevereiro de 2017

[De Ardósia]

Amo a subtração 

Das tuas virtudes

Assim ambos giz 

Quadros mútuos 

Nu cru d'ardósia 

Corpos escritos. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

domingo, 5 de fevereiro de 2017

[Inacabado]

Nada há de mais radioso que o amor. 

Curvo e recurvo, como um voo que se 

Nos poisa livre, um sopro ao ouvido de 

Palavras e silêncios pares. No caminho, 

O mais longo, o abraço largo que se nos 

Ajusta apertado, afago de lã, agasalho do 

Tear das mãos de nós todos juntos menos 

Sós na condição solitária de o sermos. Uma

Cancela aberta esse teu beijo dado que com

Alegria recebo e devolvo a ti por mim dado. O

Sol por onde subo ao renque do teu olhar e diz 

O amar inacabado, vindo e ido de nenhum lado!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)