quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O Sopro

De todas, a que se abrindo 

Já vem fechada. Daquelas

Todas a que sopra calada.

A que faz do perto o mais 

Longe dos lugares; beiral 

Do cais antemomento do 

Infindo mar. Palavra gelo

Advérbio 'Quase', é faca

Que esperançoso mata!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O Engano

Porque se vive como 

Se não morressemos

Eternidade arrogante 

Que mata quem vive 

Por conta dum nome 

Leque vaidade pavão 

O querer-se tamanho 

De Humanidade que, 

Dure o que durar, irá

Um dia acabar, justo

Sem sobrevivos p'ra

Grado nome se libar

Cujo vate ao engano 

Imorredoiro predisse.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 26 de novembro de 2016

A segunda manhã no mundo

Esta é a segunda manhã no mundo 

E estamos sós. Nós; depois de nós.

Dá-me esta tua mão e dá-me a tua 

Outra mão e as minhas dou às tuas.

Vem dançar connosco! Tu, eu e nós

Aqui neste lugar sem música, neste

Sítio de mais ninguém. Nem ontem, 

Nem amanhã. Não digas nada nem 

Eu nada direi. Põe o silêncio a tocar

Mãos de cabelos, segredo revelado

O teu corpo; o teu corpo desta vez.

Mãos de olhos, poema teu recitado

O meu corpo; meu corpo outra vez

Mãos trazendo-nos amor em mãos.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Maria

Maria 

Menina

Meu

Mel 




(c) Duarte Nuno Vasconcellos | fotografia 





Apenas

Partir foi ontem

Chegarei nunca 

Continuarei a ir. 

Não por querer

Ou por teimosia

Que mais fazer?

Se só sei viver!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Lastro

A leviandade sendo tão airosa 

Desfere as mais pesadas balas.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Inteiramente

Crê! Não és tu que anda depressa

Sou eu quem meu passo retarda

Para que, por inteiro, veja o teu:

Inteiramente seu o movimento.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

O Escultor

A forma dorme na pedra; assim um eu menino 

Em mim. A palavra desencanto tem por Canto

Seu íntimo dentro: um recanto, a voz segunda 

O dia novo, ode, onde onda a esperança. Não 

Porque se repita, mas porque se permite uma 

Primeira vez depois da primeira vez. Alevante

À condição do destino de feliz não ser jamais.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Singularidades

Exibia invulgarmente as fragilidades

Como se, por contrários, desafiasse 

Do mundo suas lógicas. Porque era

Com aceso pudor que ocultava uma

Força única que vulcânica trazia sob 

A placidez anémica o parecer; como

Se fosse deveras impróprio ostentar 

Tanta riqueza entre gente indigente.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

O Graal

Podem todas as sedes aqui, 

Pelo sortilégio do olhar que 

Recebe, beber de ti o amor.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

A pergunta perguntada

Porque demoras! Poucas horas o 

Dia tem e tu não vens. Porque te 

Espero? Eternidade cada minuto 

Porque dói a esperança um vaso 

Que morta a flor já sua terra tem.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 15 de novembro de 2016

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Sei nunca

Sei nunca da cidade onde 

Cheguei, onde me chego

Diariamente. Aconchego 

De quem partiu noutros

Lugares inteiras raizes

De sonho e se achega 

Na cama aberta inda

A da véspera já meu

Ontem se fizera por

Boas mãos nela me 

Deito e acordo para 

Dias novos d'alegria.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 12 de novembro de 2016

O lugar inacabado

É Outono e quando te 

Oiço chorar é-o ainda 

Mais; as folhas caídas 

Não são suas mãos a

Ti cingidas a dizer oh 

Meu amor eu voltei a 

Este lugar para te vir 

Buscar. Bem vejo no 

Teu olhar tal desejo. 

As minhas mãos as 

Suas o não são; sei 

Disso e tanto mais!

Mas, se imaginares 

Uma árvore d'amor 

Por ele desenhada 

Vê nelas os ramos 

Que te quis deixar 

Para te agarrares!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Búzio

Ao fechar 

Os olhos 

Oiço-te 

Inteiro no

Meu peito.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Míngua

Fui eu que do sonho 

Me perdi? Ou, inteiro,

Perante ele decresci?



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Consolo

É tanta a fala

Que me assola

Haja no silêncio

O que se cala!



Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Fosse um retrato

Não sou de mim 

Nem serei daqui 

Além deste mar,

Nada mais quis!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 6 de novembro de 2016

Inevitabilidade

Inevitável; inevitavelmente dou por mim 

Lá. Algo no lugar da vontade. Conduzido

De olhos vendados e essa mesma oculta 

Mão deslaça: lá, o terreiro onde tanto eu,

Tantos sucessivos eus, inícios inacabados. 

Como se um remoinho, um motor dentro, 

Impedisse a água que poderia ter sido o

Meu próprio rio para que me acabasse. 

Que pena! Tantos fins sem começos.

Inda assim, traços, sopros do vento

Belo, passam e olho-me infindo...



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Quando digo meu amor

Quando digo meu amor

Tu enunciado denúncio.

Não por tê-lo por certo 

Incerto diz-se amanhã!

Mas porque invocar-te

A voz meu breu aclara 

Vendo-te tangível dou 

Um passo adiante no 

Que retive; enquanto 

Ficármos abraçados

Em afeição perdure. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Doca

Boca, seus lábios 

Inícios de viagem.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)



quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O ser-se

Se, no lugar de dizer como deveria ser,

Visse desprendidamente como é; se me

Permitisse ver seu ser ser tão simples, se 

Deixasse que sua razão de ser chegasse 

A mim, tal como o aroma do café adianta 

Seu travor, talvez me apercebesse que é 

Inteiramente certo o seu jeito de ser p'ra

Que, a tempo, meu desacerto corrigisse.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)