quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A cantiga

O vento vem e vai
O vento fala e cala 
Cantiga intervalada
Som breve e dolente
Que embala as cousas  
De seu justo lugar falhas 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

terça-feira, 29 de setembro de 2015

O Centauro

É o tempo demorado
Chega como um abraço 
Lânguido dos braços dos
Rios que cingem teu corpo 
O delta expandindo-se além 
De si escorrendo pelas vastas 
Terras da lezíria que amanhece
Na notícia do amor que me fora 
Encontrado como uma barca que 
Nadasse um último fôlego para me 
Chegar viva, exausta por não haver 
Barco algum capaz do destamanho 
Do amor, maior do que o mar que o
Embarca; maior que o galope plano 
Dos cavalos que correm o belo voo
Da sua liberdade, desfraldando as 
Auras crinas; esses seres alados 
Que me elevam leve e tão, tão 
Feliz de gratidão para o para 
Lá de mim no júbilo celeste 
De tudo o que nunca terá 
Fim ➰

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Gomos

Nunca os beijara tão perto 
Os teus lábios. Com meus 
Olhos demoradamente tos 
Beijei num beijo profundo 
E vi à nítida luz do ser feliz 
Que juntos eram tua boca 
E só então a trouxe a mim. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)



 

domingo, 27 de setembro de 2015

Gentilmente

Esta absoluta paz 
A paz sentimental
Infinita por um triz 
Esta luz terna que 
Se inclina gentil para 
Beijar o entardecer que 
Nas sombras se alonga
Das passadas musicais 
Dos passantes dominicais  
Esta brisa doutra estação 
Que traz consigo o teu 
Rosto sorrindo. Fugaz
É meu contentamento.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

 

 

sábado, 26 de setembro de 2015

Recado

De mão em mão fizemos dois pares
Que atravessaram os aéreos lugares 
Fito de lograr aquele onde pousar as 
Minhas sobre as tuas. E falaste dum 
Jardim vindouro sempre que alguém
N'alguma parte do mundo se queira 
Beijar; e que o soubéssemos cuidar 
Disseste que as aves são belas mas 
Triste seu voar se não tiver donde vir 
Nem onde chegar Que não fiquemos 
Sós porque todos nós precisados de
Ninho para nascer; de braços longos 
Onde morrer o penúltimo dos beijos.
Disseste que todo este mar é a taça 
Das mãos de Deus onde caem todas 
As lágrimas das aves que choram no 
Céu a dor dos que ficam na saudade 
De quem partiu e não voltou. Vem e 
Segue o caminho de olhos fechados
Só assim me verás. Estou aqui. Vês! 
Dá a tua mão à minha. Fica o tempo 
Que tu quiseres. Só agora se faz dia. 
O último beijo, de todos eles o primo 
Daremos nós quando reencontrados 
Murmuraste antes de adormeceres.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Condição inicial

Se o Verbo no princípio e no fim de tudo
(Gramática da criação) é o corpo gerado Que transfigura a palavra e diz o mundo. 
A Voz do mundo diz-se. Nem é o silêncio: Que se contém em si; é sim a oclusão do Suporte do espaço e do tempo. Nem tão Pouco o caos: que o todo prefixa e sufixa. É no absoluto nada que o Tudo radica. É A razão do nascer prover à doce miríade das palavras estelares e o sono da morte afago do pano preto que apaga. O corpo contido na palavra; este di-la porque sua essência é dizer; os nomes cumprem-se Chamando. Não há Corpo; há enquanto Ser dizente. Digo pai meu pai. Digo filho Teu filho. Ser filho é ser em ti. Condição Inicial. Sou o teu nome, porque o trago, Ou findaria por não me e te haver mais. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Breve

São longos dias canos de 
Espingarda que disparam 
Dardos de amor outros de 
Dor no céu impassível no 
Seu azul acima de tudo e 
De todos Cinzento síntono
Quando nos chove dentro 
E se fecha em nós o lado 
De fora porque não houve 
O canto da manhã que a 
Todos chama Mas depois 
O choro da criança abre 
O que negamos A nova 
Alegria de sermos tão 
Tristes e por isso há 
Um outro sorrir ou 
Um ontem que 
Que à morte 
Se adianta 
Meu tão 
Grande 
Amor. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


domingo, 20 de setembro de 2015

Uma vida inteira

Disseram que morreste. 
Ainda não mo disseste. 
Ando às voltas com isso. 
Têm mo dito ontem creio
Noutros ontens também
Não é descaso meu. Não 
É isso; é outra coisa que 
Não me é dado saber só
Por isso não te respondo 
Não é fingimento; temos 
Conversado mas não sei 
Se o suficiente para que 
Dure o caminho que levo 
De atraso. Sabes é esse
O medo que trago: que 
O tempo conversado se 
Cale. Dizem-me cousas 
Cousas lindas de ouvir!
Palavras em cobertores 
Palavras beijos Palavras 
Inteiras Gestos terrenos 
E como é que eu estou 
Estou o quê? Porque o
Perguntam? Não o sei! 
Esse verbo tem o travo 
Do limão. Mas sei que
Viveste Vivemos Vives
Posso asseverar e citar 
Dias inteiros de tudo de
Mau de assim-assim de 
Bom. Uma vida. Inteira. 
E uma vida inteira não 
Cabe na única palavra 
Que ninguém sabe. 
Digam-me a única 
Que sabe a mel: 
Amou (inteiro). 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


sábado, 19 de setembro de 2015

Ensonhado

Ocaso/
A superfície que ocupo 
reclamo, avoco, invoco 
Amanhã há-de ser inda 
Mais; tudo mais que se
Possa mais ainda terei 
Em meu nome firmado.
Não me expando para
Nenhum lado Desígnio 
Que se esgota grande. 
Contudo menor que o 
Logro tido por ganho.

Irradiação/
Só peço uma nesga de
De terra onde firmar os 
Pés. Tenho o céu onde 
Me caber o olhar; inda 
Sobra. Chamo; duvido 
Pergunto; erro errando 
Menor que é o grande 
Do devir humano. Sou 
O que tropeço e trago 
Do chão desacerto de 
Quase nunca lograr o
Lugar. Desassossego 
Logo à primeira hora 
Depois o motor pára 
E há a linha de costa 
Ou um corpo deitado 
A meu lado dormindo
Essa paz que sempre 
Me foge que prossigo
Assombrado sonhado
Já galguei os silêncios. 
As palavras e as portas.
Tenho inda a mãe que 
Traz consigo meu pai
Que morreu embora 
Em verdade não mo
Diga por indizível ser. 
É essa condição: só. 
E se o soubéssemos 
Ser seríamos outros; 
Atempados Uns com
Os outros e tiravas a 
Roupa porque dizes 
Pesada arquitectura 
Com a qual fingimos
E trazias teu corpo à 
Minha boca ou janela 
Aberta de par em par 
Vislumbrando o para 
Lá de nós morrendo 
Devagar o lugar do 
Amor ou o último
Segredo que te
Vi no olhar: ela!

[Para ti, Olga mulher; minha mãe, mulher do meu pai, teu amor marido] 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)






sexta-feira, 18 de setembro de 2015

As 2 Portas

Se deitar contas aos dias felizes 
Faz tempo Não consigo lembrar. 
Se da tristeza as fizer sei de cor 
Mais que as contas dum rosário. 
Parece isto encerrar o estranho
Deve e haver que me proponho
Fazer; contudo, creio acontecer 
O contrário do que possa dar a
Entender É a tola humana jaez 
O hábito de dar acordo ao mau 
E muitíssimo desatento ao bom 
Que nos pode suceder. Razões 
Sobejas para concluir que sou 
Feliz sem o saber e o perceber. 
Redigo para não me esquecer!

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Mãe d'Água

Há o início da compreensão 
Mais íntima disso que me digo:
Não é a amarra que segura barco 
Ao cais. Vê os contrários. Não há
Partida, que é o barco; há aqueles 
Que ficam, é o cais. Dá-me a corda
Há correntes tão fortes que ligam 
O rio ao mar há beijos que duram 
O olhar infinita mãe d'água onde 
Todos os dias te bebo menino 
Pai. Vê, um novo dia nasce
Vou sonhar-to oferecer-to; 
Devo-te estes acordares 
De tantos contrários!

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Sonho acordado

A viagem comporta um ensejo, 
Um sentido de expectativa do 
Mundo; o nosso próprio mundo 
Afinal. Viver! A torna-viagem é o 
Desenho alegórico do fim; onde
O olhar se torna num demorado 
E gozoso exercício de gratidão 
Face ao mundo a que nada se 
Pede e tudo se agradece. É um
Sentido novo de despojamento 
E de revisitação feliz da matéria 
Dada. O riso dá lugar ao sorriso. 
É uma vénia e não um aceno; já 
Todas as malas foram abertas e 
Todas as roupas usadas. Nós os 
Nus diante de nós, nus. Olha-se 
Em contentamento o portento o 
Inteiro do Graal, ou espanto ou 
Esplendor da vida. Rememorar; 
Reviver é beijar de olhos abertos 
Porque o sonho é a grandeza do 
Vivido não do sonhado, o original 
Prevalece sobre os duplicados. 
A asa e motor: ambos de amor.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

terça-feira, 15 de setembro de 2015

A música calada

A nota reverbera solta da pauta 
E anuncia o silêncio sobrevindo. 
Não há dois iguais: precedentes
Companheiros, de tempestades 
Ou do apascentamento daquele
Que se tresmalha no fio diário e
As palavras foram caindo folhas 
Chão da tua árvore chegado era
Teu argênteo outono; dir-me-ão
Falavas e eu sempre a dizer que
Te foste calando vestido no som
Dos outros. Sinto falta a tua voz 
Não tanto no sentido de dizeres
Porque de há muito sobreleva o
Olhar a quem se tornou sábio; é
Do som da tua voz, tem seu eco 
Demiurgos a acalmar os ventos 
Dos caos a que chamo o medo!
E há o grande som que se abre 
No silêncio do peito é a concha 
Que achamos suportável e tão 
Raro esta se abrir do seu mudo 
O dentro da matéria mater. Por 
Isso se fez um profundo langor
Estival, estupor da estação sol 
Minando o vigor de cada corpo 
Nosso para que um por um se
Aquietassem e pudesses fintar
A noite que no entretanto baixa. 
A sala estava cheia do anfiteatro 
Dos rumores restolho vento risos
Guizos, zumbidos sinos a repicar
O maestro sentou-se. A orquestra 
Calou-se e quando adormecemos 
Partiste silencioso daquela noite.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


domingo, 13 de setembro de 2015

Em todas as ruas choveu

Diário duma possibilidade: hoje à
Tarde procurei-te pelas ruas; não 
Te vi. Liguei à mãe que me ouviu 
e falou de ti como tu a mim petiz
Quando o sono teimava em fugir
E encontrei-te nela. Na Cantilena 
Veludo voz materna o saber dizer
a toada das palavras precisadas 
De ouvir. Quando o choro parou, 
Em todas as ruas choveu! 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


Só tu sabias dizer que também existo

E disseram o vazio e eu disse
O vazio Mas é demasia o que 
Sinto Não és tu que faltas sou 
Eu que sobro. Eu assombrado 
Nas horas longas do domingo
Dos que ficam. Mais do que o 
Findo dói sobre tudo o mais o 
Não haver sonho. Dessonhei
É uma palavra inventada; eu 
Sei. Mas não mo impeçam;
Não agora, não hoje, logo 
Hoje que finto o dia o som 
Do pássaro que me traz a 
Alegria possível dos dias 
Assim. Sim invento tudo
Quem sou para onde ia 
Invento que me olhas 
Porque quando me 
Olhas sinto-me 
Bonito como 
Só tu sabias 
Dizer que 
Também 
Existo! 

(c) Filipe M. | texto (2015)
(c) Duarte Nuno Vasconcellos | fotografia (2015)



sábado, 12 de setembro de 2015

Um outro dia qualquer

Assombrosa onda plenamente 
Deformada de irrealidade uma 
Parede alta de mundo escorro
Sozinho embora boa gente se 
Avizinhe a dar a mão à minha.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)





sexta-feira, 11 de setembro de 2015

O último rio

Porque não inventar um lugar 
Onde se chega por mar a ilha 
De maravilhas toda percorrida 
Em pés de algodão e da boca 
Soprado um vento estival que 
Dança a folhagem das árvores 
Das frutas doces dos pomares 
Favos de olhos de mel e uvas 
Da boca geram divinos vinhos 
Brindando taças de mãos que 
Se dão ondulantes nas searas 
Da pele de quem se namora e 
Demora no amor que se faz o
Prazer dos corpos sem venda 
De culpa e sob a luz prateada 
Da lua pagã que comanda as 
Marés as colheitas e humores 
E semanas feitas para nascer 
O belo é nu sentido da morte 
Que se cumpre no viver vida 
Inteira como ela se faz cada
Dia novo enterro do anterior. 
Sem dor viveremos contigo 
Rosto de lírios encanecidos 
Flores altas do teu cansaço
Regaço materno nos braços
Manto onde poisas o olhar e 
Divaga o pensar ou um avião 
Sem motor que transporta as
Coisas da alma em seu redor. 
Às vezes cabemos o mar ou 
O mar que trazemos cabe no 
Seu tamanho água de mar a 
Perder de sal ou doce somos 
No útero líquido dentro e fora
É quando peixes a respirar ar 
Se perdem para nunca mais 
Voltar. O mundo evapora-se 
E fica um charco e dizemos 
Lago a dizer chuva no estio 
Saber que sangram lábios 
Gretados; um último rio,
Que se abraça vazio. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Beija-flor

Percorrer o meio caminho para
Levar-te o beijo; trazer comigo 
No outro meio o gosto desse 
Mesmo beijo por ti beijado. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Há sereias a caminho do mar

Faz hoje um dia
Faz hoje um mês
Faz hoje um ano 
Dum tempo que 
Havia faz tantos
Faz demoras faz 
Horas irreais faz 
Que não venhas 
Nunca mais faz 
Os cigarros por 
Fumar a cadeira 
Por sentar e faz 
Falta o teu olhar 
Faz os dias sós
Porque as aves 
Não voam o ar
Faz frio o vazio
Ruído o silêncio 
Faz branca tua 
Flor foz da voz 
Que se calou e 
Incerta a hora 
Do deitar e do 
Sonho sonhar 
Faz o tumulto 
Do rio a cantar 
Que há sereias 
A caminho do 
Mar faz agosto
Faz desgosto e 
O alto no baixo 
Faz tempo faz 
Saudade faz a 
Gente chamar 
Menino nosso
Em seu lugar
Faz o que fez 
Desfez e refez 
Teu absoluto 
Esplendor! 



segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Diário (IV)

Por vezes não apetece o mundo. 
Não é ingratidão; é saciedade.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

Da minha janela

Não quero ultrapassar a dor 
O viver não tem velocidade 
É rio que corre devagar no
Vagar ou não fosse vento 
A memória que espalha 
A semente e prefiro a 
Janela que se abre à
Flor futura de amor.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


O choro alegre do rio

O desencanto tem seu próprio canto 
Em cada lamento todos os caberes 
A mais longa lonjura tem seu perto 
Cada lágrima tem no rir o reverso
O rio é um choro longo porque 
Deixa saudades quem parte 
Mas dizer isto é só metade 
De tudo quanto podemos 
Fazer em cada dia viver 
Todos os fins como os 
Princípios porque nos 
Deveremos reger ou 
Cantar a alvorada 
Que abre o amor 
Como o estore 
Se abre à luz 
Tristeza que
Se apaga. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

domingo, 6 de setembro de 2015

Regressos

Beijei teu rosto enamorado 
Sabendo que partia o corpo 
Do teu corpo para outro lugar 
Onde o pudesses dormir; a tua 
Pele os teus olhos as tuas mãos 
Os teus pés os mais belos beirais
Donde partem regressos pássaros 
Viajantes de tantos assomos lugares 
À altura dos teus olhos síncronos não 
Mais pulsos de relógios de tempo finito.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015) 

sábado, 5 de setembro de 2015

Rodapé

Desatino isto do sucedido irreal!
Saber-se irreversível o acontecido 
E tudo é o mesmo duma maneira 
Totalmente (in)diferente; saber até 
Se sabe mas agir tem a sua rotina.
A roda que gira leva seu tempo a 
Parar e quando deveras pára é a 
Rodar que a vemos no olhar. Vale
Isto para tudo mais que de súbito 
Nos sai da vida dum jeito tal que 
Andamos à nora engenho d'água 
Fosse porque nos gira a cabeça 
Num sentido, o coração noutro e 
Aqueloutro a alma caída aos pés.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


Rotação

O mundo corre lá fora 
P'ra lá de fora é mundo
Nada mudou segue tudo 
Seu rumo como outrora
O mundo cresceu 
Talvez que tenha 
Encolhido eu que 
Não lhe caibo do
Andar tão perdido
Se maldigo quem
Ri, por igual razão
O bendigo porque 
É meu bordão esta 
Total Indiferença do
Mundo que gira nas 
Mesmas vinte-quatro 
Horas de fazer um dia. 

(c) Filipe M. | Texto e fotografia (2015)

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Agosto

Quem matou 
A esperança 
No gume da 
Flor do amor? 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

Doce engano

Falávamos do sol mas tudo
Vejo anoitecer ao meu redor
Direi doce engano a arte vã
De viver que sabidos danos 
Tem embrulhados afazeres 
Quotidianos p'ra olvidar-se
O cru pano que nos há-de 
Amortalhar assim queiram
Vestir-nos e ajeitar os que 
Por cá ficam pouco mais. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Os Desistentes

Do nascer prover à doce miríade 
Das palavras estelares e a morte
Afago do pano preto que apaga. 
A palavra contém o corpo; e este
Di-la porque é sua essência dizer; 
Um nome cumpre-se no chamar. 
Somos seres dizentes inda assim
Dizemos por dizer os dias a fazer. 
Para que uma coisa nasça outra 
Há que tem que desistir e morrer.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

terça-feira, 1 de setembro de 2015

A Barca breve

O Homem desfez o Verbo. Fez-se 
Além de si na renúncia da Palavra
Que comporta e dizemos nós teu
Novo nome. Convoquem nossas
Mãos baptismais a Barca rumo à
Prima viagem para que em mérito
Descanses na paz que só o Amor 
Traz. A Eternidade tem o tempo 
Breve do audaz. //

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

O Conto da Pele

Na diagonal a luz conta a tua pele. 
Falo do que se desprende. Talvez 
O vento: esse carteiro incansável 
Que leva e traz. Lugar ameno ou
A possibilidade do corpo (o teu,
O meu, enquanto teu, porque to 
Dou) inaugurar o seu próprio ser:
Incessante prossecução do Belo,
Ou o darmo-nos à verdade, amor.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)