terça-feira, 31 de maio de 2016

À chegada

Os dias que têm sido hoje 
Podem d'amanhã o ontem
Nós roucos de chamar os 
Que sem anúncio partem.

Os olhos de tantos outros 
Trazem as notícias de nós 
Que ficámos sós sem vós
Segunda pessoa singular 

Brisa de luz vento d'água 
Dizei-nos se é lugar este 
Sítio novo que chegámos
E se o for que diga amor!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)










segunda-feira, 30 de maio de 2016

Se puderes

Se voltares vem contigo 
E apenas se o desejares 
Irei connosco revisitado
Aonde fomos até ao fim 
Dos nossos seres antes 
De morrermos de amor 
O amor que faz de dois 
Um só ambos meio par. 

Apenas se puderes dar 
O nosso nome apenas 
Se souberes se somos
E disso ainda capazes
Se depois d'olharmos
Nada tivermos adiado
Só então um regresso 
Ao terno termo inicial. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 29 de maio de 2016

Intimamente

O trazer-te à intimidade 
É também o que não te 
Quero mostrar. Preciso 
É um lugar da invenção 
Do outro; desconhecer 
É (re)começar o amor.
Da plateia pouco vejo
Do palco teu bastidor.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 28 de maio de 2016

Ali, comigo

Ontem num café num café 
Citadino um café distraído
De livro esquecido, eu que 
Era a sós comigo pergunto
Qual havia sido do amor o
Momento que me procura
Intimamente ali respondo:
Quando, por fim, chegara 
A casa, já noite, e intensa 
Uma nova luz acendia da 
Janela esse tu que havia. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Devagar

São devagar os teus olhos 
Onde vêm chorar os meus 
Porque poisam bem-querer 
Nos lugares onde não nasce
A flor que vejo a vires colher.
E erguem pontes esses teus 
Braços para que a minha dor 
Possa por fim passar e deste
Mesmo mar dolente recolhas
O já teu este meu corpo tão 
Exausto de nadar e porque 
O cuidas em amor o beijas 
A cantar para que eu possa 
Adormecer sem medo que 
No amanhecer não te veja 
Chegar para me ergueres
E tomares porque depois 
Da morte só posso amor.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Num quarto-de-hora

Naquele quarto-de-hora Deus fora 
Comer qualquer coisa e por pouco 
Tempo se ausentou; a cargo ficara
Jesus ainda muito novo O da idade 
Antes da cruz que lhe oferecemos 
E distraído não curou que havia ali
Gente esquecida. Esquecida ficou.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Irrespondido

Perguntavas perguntas tão imensas
Pequenos enormes onde me perdia 
No ensaio das respostas que queria 
Dar; coisas atrevidas complexas de 
Nada para impressionar-te ao olhar
Oh pena! Tanta coisa disse calado!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 24 de maio de 2016

Fugaz

Cantai aquela canção de alento 
Que finta e adormecido acorda 
O passo que caminha o dentro
Que trago ausente dum tempo 
Em que d'alegria me sorrindo, 
Dizias que nada nos impedia. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)


domingo, 22 de maio de 2016

O fazer

A geometria diz a forma; um ponto a partir 
Do qual a tua mão. A tua mão afagando de 
Gesso a pele do corpo emaciado do amor 
Púbere no baloiço da idade acrescentada.

A luz produz langor e horizontalidade: um 
Sítio a sul onde nem mesmo o próprio mar 
De verde-azul indeciso é liso nem assim a 
Tua pele que os meus olhos limam e limos 
Que beijo acima do sol que teus olhos têm 
Sugerem sombra como a ogiva uma curva

E a luz entra e brinca no lençol linho de nu  
Dividindo unindo, destapando ocultando o 
Que compomos tão para lá de nós: o acto
Do amor que se faz e que autónomo em si 
Perdura mesmo que por acaso se desfaça
Quem o faça. E da matéria nossa imaterial 
Transita paira e nidifica em quem acredita. 

Assim o filho de pai e mãe que pai de filho
Duma filha mãe de si nasça. O amor tem a
Sua forma vária e dizemos dele geometria 
Quando é a nós que deforma. Bem ou mal 
Somos nós os fazedores das altas coisas!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 21 de maio de 2016

Eucaristia

E o nosso corpo abrindo 
Novamente a primavera!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 20 de maio de 2016

Hélio

Cada passo anuncia antiga os
Dias duma nova alegria sabendo
Que atados em cada pé um balão 
Da cor invisível de quem traz a dor 
Consigo como o sopro dum sorriso 
Que se esqueceu de morrer sorrindo 
Porque a tua memória são lápis de cor 
E este céu que devasso a folha de papel
Onde te digo que venhas até aqui nascer 
O dia para eu o correr e para to contar em
Cada instante como se te contasse o filme
Do sermos nós a mais bela história de amor. 




quinta-feira, 19 de maio de 2016

Gengibre

Nesta casa amor tem o dentro e o fora 
Nesta casa quando se entra não se sai
Nesta casa não há pressa nem demora
É do ser gente a gente que dela se faz.
Nesta casa cada pessoa é assoalhada 
O pé é soalho, mão parede derrubada 
Os olhos dizem janelas e lábios doces 
Beijos beijados e para quem cá chega 
Frio há malhas d'abraços lã apertados.


(c) Filipe M.,| texto e fotografia (2016)

O mesmo fim

Olhava para ti todos eles 
O mesmo começo antes 
Era outro quando o olhar 
Contigo se cruzou perdi 
O medo que trazia havia 
Dias que doíam o corpo 
Na alvorada da maresia 
Da cama vazia na vaza 
Do adeus o teu depois
Bela mentira uma bala 
Memória que atraiçoa 
E se deita comigo na 
Ressurreição do teu 
Abraço que crescia 
Quando acontecia 
Seres tudo o que 
Nunca te pedira 
Teu todos eles 
O mesmo fim. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 18 de maio de 2016

Nomear

O dar um nome fundo 
ao rosto que trazemos 
Como a luz despindo a 
penumbra, descobrindo
O amor que todos temos.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

O irmos.

Vinde ao terreiro da felicidade que 
Assim se abre para passarmos sós
Gratamente o Portão, sem lamento.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Soleira

Na espera do que 
Nunca lhe apareceu 
O inesperado chegou.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Cidade infante

Do amor que entre a gente se conta
Dum tempo em que éramos muitos. 
E daí a rua, roteiro de doces aromas
Que se espalham p'la cidade infante. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 10 de maio de 2016

Porém

Levantado
Caí da cama 
Caí da escada 
Dos altos sonhos,
A desoras a mais fria
Madrugada inesperada
Pelo chão horizontal esse 
Meu corpo de então partido 
Em muitos lugares encontrado
Porém, na mão fechada, intacto, 
O amor por cinco dedos guardado. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Pai

O voar acima 
De mim para 
Te encontrar.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Rogo

Ganho temperança na infinita distância
Que trago e traço longo dias de alegria
Onde nada flui e já fui afluente dum rio
Que dói para onde quer que ia; arauto
A voz tece uma gola de lã boca malsã
No par de mãos a foz nó pulcro afago
Que abraça morrendo-me apertando
(E)terno aflorando o esgar do sorriso 
Efeito se escapa à hora daqueloutro
Sua morte, nossa de cada um a vez.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Raio X

Da palavra ao silêncio 
Dito sou o meio disso.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 9 de maio de 2016

Dia nono

Sabes, não faz mal! Eu sei que quiseste partir 
e que amar, disseste, era deixar partir. E partiste 
Ficando. Ontem na chuva, hoje no sol. Amanhã 
Outro lugar. Sim, bem sei que não gostas deste 
Olhar e para quem rir como te ria quando tu me 
Olhavas assim, como ainda agora? Regressar é 
Uma palavra que só percebemos depois; agora 
Não há regressos; é andar para te reencontrar. 
E deste (des)agosto nono o dia, tua data natal! 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 8 de maio de 2016

Café Ideal

Tenho saudades tuas e cabendo tudo nisto
Que digo não fica nada na lonjura nem aqui 
Perto. Esse não-lugar é o destino que peço
Podendo sê-lo em qualquer lugar, que seja 
Meu o deserto. Num certo sítio, decerto o 
Sítio certo, dum certo jeito o jeito certo de 
Me encontrar no substantivo que recusa o
Sinónimo e o antónimo setas doutos sítios 
Que não quero indicar; só neste me quero 
Focar. Por ti sou o convocado, o nomeado
Porque sem o outro, mesmo que esse seja 
Eu, não há nada e faz saudade, e saudade 
Não cabe em nenhum lado senão em mim. 
É demasiado. Se o digo assim é ainda mais 
Verdade na demasia o sentir sempre maior 
Que a palavra que o tenta vestir. Já não ou 
Talvez um ainda advérbio de que me sirvo 
Porque a saudade é fome, alimento jamais
Embora traga memórias de que me quero 
Afastar, para logo de seguida me acercar. 



domingo, 1 de maio de 2016

Das coisas

Em tempos, esse incerto mercador, 
Questionava o porquê das coisas e 
Disse no que conversava que todas 
Elas nos serviam ao olhar; para que 
Pudéssemos poisá-lo nalgum lugar. 
Que nada de mais triste pode haver 
Não ter o olhar moradas onde ficar. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)