domingo, 30 de abril de 2017

[Apeadeiro]

Aquele dia quente / chapa cruel do mundo

sol ardente / luz sufocante d'agonia / sabia, 

sabia que chegava o comboio que partia / 

fiquei na estação que encolhia / soubeste 

antes de mim que s'iria / já ido afora fora /

só eu não via / ficaste tu nesse jeito de /

estar, inda d'hoje, de chegar chegante. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quarta-feira, 26 de abril de 2017

[Plano inclinado]

Talvez é uma palavra, 

De começo inacabado.

Um telhado inclinado;

É vez sem prazo, um

Acaso demorado que 

Não vem de nenhum lado.

É um banco do jardim por 

Mim inventado onde me 

Imagino a teu lado. Um 

Mirante doente de vista 

Não haver ninguém que 

Me dispa disto que não 

Existe e inda assim ser 

Esta a roupa que trago 

Para que me vista a

Tempo dessa visita 

Que nunca assiste. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

segunda-feira, 24 de abril de 2017

[compasso]

E andamos juntos 

Desenhando sóis!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)


[emptiness]

O não ver eu que na 

Crisálida acontece

O botão vindouro

Da borboleta flor.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

sábado, 22 de abril de 2017

[Esplêndida manhã]

A escrita não é íntima, nem tão pouco convoca 

Ou propicia a condição. A intimidade nua pede 

Um murmúrio que vista. Quiçá a transparência 

Reclame, para se dar a ver, intento que deseja

Ainda que em parte inadvertidamente por isso 

Desvirtua, velatura, ou discreto robe de quarto

Que resguarde, dando-se, do beijo à janela do

Ar fresco da esplêndida janela da manhã nova!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

terça-feira, 18 de abril de 2017

[Tristezas]

Perguntaras porque era triste

É meu jeito disse com ou sem

Razão; calha umas vezes que 

Sim e outras que não. Porque 

Sou triste perguntas é o meu 

Jeito uma vez to disse redigo

Doutro jeito agora o ser triste 

Meu ser reperguntas tu qual?

Digo-o a ti para que me ouça 

A mim também: é que se me

Perde o jeito no modo do ser

E no desajeito o dar por mim 

A sorrir-te Abril como se fruto.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

segunda-feira, 17 de abril de 2017

[De Longe]

Havia Deus ao longe e 

Acreditavam lá no cimo

Não incomodava e Este 

Fez-se homem como os 

Homens que Amava; não

Acreditaram mataram-no

Cá em baixo atrapalhava! 

Subiu aos céus de pregos

A escada e Revivo por seu 

Pai, Vive pleno a quem ora 

Na Cruz paz de eternidade

Assim O puseram; não para 

Que Não O subíssemos mas 

Para que não nos Descesse!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

sábado, 8 de abril de 2017

sexta-feira, 7 de abril de 2017

[O Travo]

Deixei de morrer quando morri. 

Revivi daí. Me inundasse deixei 

A dor afogamento limite à bóia 

Da superfície líquido Graal sua 

Taça libação; murro de água à

Boca o trago, brinde à finta da 

Ira que não vingou vez d'amor.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quinta-feira, 6 de abril de 2017

[Agora]

Não é o eu ser 

Pequeno; és tu

Que, por maior,

Me acrescentas.

E por seres adulto

Me trazes ao lugar 

Da infância o sorrir

Que me sorri agora.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quarta-feira, 5 de abril de 2017

[Soubesses]

Se te pedisse 

Um beijo pena 

Seria não mo 

Dares porque 

Te dou tantos

Sem saberes.




(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

terça-feira, 4 de abril de 2017

[Um só]

É no meu corpo que vou

Onde não for meu corpo 

Irão seus olhos, coração 

De sonhos; para lá deles 

Toda minh' alma os teus 

Se me lavares quando eu 

Morrer e sonhar possas tu 

O que não conseguir acabar 

Juntai aos teus um só dos meus. 




(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

domingo, 2 de abril de 2017

[Pesponto]

Há esconsos e desvios onde a luz cria efeitos.

Baloiço e canteiros de cor. Um lado fabril dum 

Tempo atrás por décadas e madeiras e bules e 

Animais domésticos. E de metal os passadiços 

Uma colmeia. Tudo parece suspenso no tempo 

Que há-de vir: futurando passados costurando 

Fato a vestir nos dias ímpares; radioso augúrio 

O Sol macio a dizer quente a pele do amor que 

Se aumenta no depois dos corpos o dizerem o 

Estarmos ali naquele estupor tempo impreciso 

Diluídos numa quimera. Um sonho de que não 

Sei sair o sonho a que não sei voltar. A manhã 

Improvável ou a ainda mais improvável noite E 

A véspera ou a ressaca de algo maior. Tempo

Indeciso ando perdido dele passo encontrado 

Um corredor aberto apenas e já tanta a ilusão 

Do caminho certo sempre em frente, a direito

Não tem nada que enganar! É certo o relógio;

É sempre uma hora qualquer, qualquer que a

Seja em nós. Desoras: atrasado e antecipado

Uma biga em desgoverno na cabeça não nos 

Pés ponteiros avessos ao pensar sempre em 

Frente, não tem nada que enganar! É manhã

Sóis pondo ouros aqui e ali ou toalhas de luz 

Que o olhar acerta aqui e ali. Engaste do ser 

Feliz, preciosa gema este sentir novo de me 

Ser leve, o andar distraído de puro descuido

De quem não se leva a sério é que tem mais 

Jeito encontrar do que se andar procurando 

O que não é de achar: um rosário tem várias 

Estações sem apeadeiro: por certo a do fim! 

Há ruas de empedrado escorregadio e deixo

Que me leve onde me queira levar inteiro dia 

É porção de Eternidade que se faça em mim 

Todo essa infinita parte. Há a cidade lenta a 

Acordar-se domingo e sou verdade em mim

Donde vim, empreiteiro da estrada sem fim!

 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)