segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Nataleceu

Dos teus dedos lâmpadas acendem
Amor natal no corpo da minha pele. 

Filipe M. | texto & fotografia (2015)

domingo, 29 de novembro de 2015

Haver

Quando te vi soube que te amaria.
Mas o compasso da chegada traz
Antecipado por igual o da partida. 

Poisa no ramo de mim esse amor 
Que em ti havia mas cada asa tem 
Metade de céu no intento do voar.
Também os barcos aportam mas
É do seu sentido o mar navegar. 


Filipe M. | texto e fotografia (2015)


sábado, 28 de novembro de 2015

Princípe (Ana Hatherly)

[ao meu Pai]
Beijava os teus olhos por dentro 
beijava os teus olhos pensados 
beijava-te pensando 


28

O amor não é um coração que veda o desamor 
É o que lhe sobrevive. 


Arredondado

Dizem que o amor se gasta nas arestas; 
Digo que é no redondo que se no-lo escapa!


Filipe M. | texto e fotografia (2015)

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

27

O peixe do rio foi viver o mar 
Tingindo de rio a prata lunar.
Nascera no sentido veloz da 
Foz: a vasta porta do mundo
E viu todos os líquidos céus 
No júbilo amplo da liberdade.

Um dia subiu a primeira vez
Esse rio e contou que viveu
Em longínquos lugares mas
Que é à casa onde se nasce 
Que, grato, se vem morrer.

Na maré vespertina dos
Nossos (a)braços ficou.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

26

Saudade é quando te recomeçamos pelo fim,
Supondo-te o reverso dum rio que nos sorriu.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Da alegria (Tolentino Mendonça)

Fácil é ser triste. O mais difícil é permanecer na alegria!
[Tolentino de Mendonça] 

Filipe M. | fotografia (2015)

domingo, 22 de novembro de 2015

DB: 21 Nov.

Aconteceram tantas coisas; circunstâncias a que pude dar nome. É estranho, mas real, o quanto reconforta nomeá-las. Entendo agora a solidez dum substantivo. Só agora! Tantos 'só agora' nestes tempos recentes. E aqui estou à mesa, neste 'estar à mesa' que me abraça, a desembrulhar o sábado onde café, chá e mel servem seus leves aromas inaugurais e deixo o sono pairar na sua cadência morna e frutada na passagem ritual para o dia levantado. 

Tantas coisas 'desacontecidas' (há mais verdade assim). Gente que se ausentou; e são eles, os seus nomes, que se sentam aqui comigo nesta primeira ceia. O nome do pai que tive, o nome do amor que tive - é estranho isto de ter e deixar de ter - pairam generosos, na transcendência da matéria. Talvez seja isto a memória: aroma. Há este doce silêncio azulado, que mantenho zelosamente, como se os prolongasse talvez um pouco mais ou serem a água 
fresca que pelas mãos lava o meu rosto de acordar. Talvez!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

A vez

Ao deitar-me fica entreaberta 
A porta pela dobra do lençol 
Para que haja o rumo da luz
No escuro para que possas 
O meu corpo no destino da
Primavera esta primeira vez. 


Filipe M. | texto e fotografia (2015)

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sertão (Caetano Veloso)

A luz a paz
Da voz da voz em mim
É o amor que conduz
E traz aqui
E diz sim em nós
E não tem fim
O céu o ar
O azul do azul daqui
Desse mar desse chão (...)
Terminar se não
No coração
[Caetano Veloso, Moreno Veloso]

Filipe M. | fotografia (2015)


segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Coisas pequenas (Madredeus)

Coisas pequenas são coisas pequenas
São tudo o que eu te quero dar 
E estas palavras são coisas pequenas
Que dizem que eu te quero amar
Amar, amar, amar
Só vale a pena
Se tu quiseres confirmar
Que um grande amor não é coisa pequena
Que nada é maior que amar
['Coisas Pequenas, Madredeus / Pedro Ayres de Magalhães]

Filipe M. | fotografia (2015)


domingo, 15 de novembro de 2015

Herberto Hélder (Poema III)

Não sei como dizer-te que minha voz te procura
e a atenção começa a florir, quando sucede a noite
esplêndida e vasta.
Não sei o que dizer, quando longamente teus pulsos
se enchem de um brilho precioso
e estremeces como um pensamento chegado. Quando,
iniciado o campo, o centeio imaturo ondula tocado
pelo pressentir de um tempo distante,
e na terra crescida os homens entoam a vindima
— eu não sei como dizer-te que cem ideias,
dentro de mim, te procuram.

Filipe M. | fotografia (2015)

Nelson Mandela

"Quando eu saí em direção ao portão que me levaria à liberdade, eu sabia que, se eu não deixasse minha amargura e meu ódio para trás, eu ainda estaria na prisão" [Nelson Mandela] 

Filipe M. | fotografia (2015)

Hérberto Hélder (Poema II)

E já nenhum poder destrói o poema. 
insustentável, único, | invade as casas deitadas nas noites, | e as luzes e as trevas em volta da mesa |[Herberto Hélder]

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

No teu casaco

Visto o teu casaco
Por dentro o visto
Como o teu abraço
O teu sentar sento
O teu deitar deito
O teu rosto leve 
Levo ora comigo
Ângulos mortos 
Ocultam traços 
Dos teus passos 
E as tuas mãos 
Falaram tão alto 
E eu não escutei
E o relógio parou 
E os ponteiros 
Abriram a hora
Nova onde ainda 
Não tenho vaga
E procuro os teus
Tamanhos e de 
Boca em boca 
Pergunto por ti 
E os meus lábios 
Saberão sempre 
Ao gosto da tua
pele, fronte doce
De frutos beijada 
Murmurando as 
Palavras que me 
Dão o lugar certo 
Porque me dizias 
Que tinhas que ir 
Mas que teria eu
Que ficar porque 
Os teus amores 
Teria que curar.
Pediste para ir 
Que vás na paz
Disse dividido 
Sorri chorando
Pouco depois 
Nasceu o sol 
E nunca mais 
Anoiteceu.

Filipe M. | texto e fotografia (2015)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O arco

Cada palavra emerge pura e alta do magma do indizível silêncio, da indivisível matéria erguido.
Porta-contentores atravessam os mares imateriais com seus pesados materiais gramaticais trazendo-os à altura dos olhos de verdes vagas iniciais. 
Dois lábios não são forçosamente uma boca ou dizer a flor toda em pensamento é uma metade. 
O que não tem dentro falha por fora: espelho que se espelha porque ninguém mora.
Quando a nave aporta vinda de lugares há o beijo inteiro da flor e sentamo-nos dois no paredão onde os rostos (os que se permitem sonhar), espreitam reflectidos na água que batiza os pés e abrimos, deslaçando, as ondas natalícias e por nossas próprias mãos as palavras dão-se ao silêncio vindas. 
Estamos ali, inteiros, investidos e capacitados.
Arqueio o corpo e recebo o teu. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Joaquim Pessoa (Ilha)

Houve uma ilha em ti que eu conquistei. 
Uma ilha num mar de solidão. 
Tinha um nome a ilha onde morei. 
Chamava-se essa ilha Coração. 
[joaquim pessoa]

(c) Filipe M. | fotografia: Funchal (Mercado dos Lavradores) / Dez. 2014.


quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Herberto Hélder (Poema I)

E o poema cresce tomando tudo em seu regaço. E já nenhum poder destrói o poema. (...) E o poema faz-se contra
a carne e o tempo. [Herberto Hélder]

Filipe M. | fotografia: Funchal (Zona Velha) Dez. 2014

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Por fim

Eu sabia que um dia 

No medo corri todas

As ruas de mim saídas

No ganho enganado de

Saber o passo adiante 

E pensando que me 

Escondia não sabia 

Que era nesse meu

Próprio galope que 

No dorso já seguias

Eu sabia que um dia

O anti-dia chegaria...



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)