quarta-feira, 31 de agosto de 2016

terça-feira, 30 de agosto de 2016

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Gay

Pra encerrar a preceito
Esses versos que alinhei 
Se existe um homem perfeito
Ele só pode ser gay.

['O Homem Perfeito', Jô Soares]



(c) Filipe M. | fotografia (2016)

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

P'la tua mão

No metro um menino viajava pela primeira vez!
Que júbilo: os olhos são todos os lados; a sede
De ver a maravilha do mundo e como ele sorria
Sorria como eu que pela mão do meu pai desci
Tem anos as escadarias da estação d'Alvalade! 
Portas mágicas abrindo-me ao teu mar imenso 
Que queria galgar; o mesmo querer do menino
Mas quando havia medo, os olhos procuravam
Os teus, muito acima como um céu. Passado!?
Não! Eu e o menino de hoje iguais como nesse 
Dia de há tão pouco; dei-te as mãos e tu deste
As tuas às minhas quando te vi medo. Quando 
Tenho eu medo, inda é para cima que olho teu 
Céu, teu olhar, tuas mãos, teu amor infindável! 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

O meu segundo primeiro livro

O acto de escolher e ler livros será sempre teu; Lembras-te? Sentava-me no chão em frente à estante dos livros e, um por um, resumias suas histórias e eu escolhia qual ler a seguir. Depois, líamos a desoras e tínhamos fome. Madrugada Íamos à cozinha e, por minutos, falávamos das Leituras em curso; anos a fio o fizémos. Depois Partiste e deixei de conseguir ler; sentia-me só 

Sem ti, ainda que sentisse saudades. Terminei 

Hoje um livro, meu pai! À última página o casal 

Une-se num abraço nocturno, antigo, maduro Conivente e perdoado. Não há acasos, todos 

O sabemos. Estou feliz: olho o teu retrato por 

Dentro dos meus olhos. Já fui àquela estante Escolher o próximo. Sei-te aqui feliz comigo e Certamente irei à cozinha se me der fome. És 

O mais belo contador de histórias por isso irei Contar-te as que eu ler. Não precisas de ser o 

melhor pai do mundo: é sobejo seres meu pai. 

Há um livro teu, escrito por ti (a mãe mo deu a empréstimo), mas esse ainda não estou capaz 

de ler! Ele dar-me-á aviso quando achar que o poderei fazer. Eu sei que entendes. Noite feliz! 

Um beijo. Pipo




(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)


terça-feira, 23 de agosto de 2016

Canto

Caber numa nota, num som 
Que ressoa a cidade inteira.
Há palavras que podiam ser
Nossas; talvez por isso oiça 
Quem assim canta Adivinho
De caminhos seus recantos 
A ninguém ditos; nós dados 
Na pauta da voz deslaçados.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Sapiência

Alguém que muito prezo e a quem devo 
Preciosas ferramentas de vida disse-me 
Um dia que na fase heróica achamo-nos
Capazes de vencer todos os demónios; a 
Esta sucederia a idade da sageza na qual 
Realizamos que esses demónios são para 
Estar bem fechados no alçapão com uma 
Pedra em cima. Se ainda assim, mexerem 
Coloque-se um, dois, vários pedregulhos! 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 20 de agosto de 2016

Ante-estação

Caem folhas d'Outono 
Das árvores d'Agosto
Finda cedo a estação 
Onde o sol teu rosto. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Esse lugar

Ah um beijo 
Um beijo teu 
No casal que 
Roubado deu. 
Como se fosse 
Seu lugar o meu. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 7 de agosto de 2016

Ary dos Santos

Meu cavalo imenso e louco a galopar 
na distância entre o muito e entre o 
pouco que que me afasta da infância.

[Sete Letras, Carlos Ary dos Santos]



(c) Filipe M. | fotografia (2016)

Ahmad Shamlou

Eles cheiram-te o hálito 
Para o caso de teres dito "Amo-te"
Eles cheiram-te o coração
Estes são tempos estranhos, meu amor 
Aquele que bate à porta à meia-noite 
Veio para matar a luz 
É melhor escondemos a luz no armário 

Ahmad Shamlou 
[poeta iraniano] 


(c) Filipe M. | fotografia (2016)

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Vezes

Umas vezes quero 
Lembrar-me do teu 
Rosto e não consigo
Outras vezes quero 
esquecer-me do teu
Rosto e não consigo. 
Ambos vão comigo.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Animalia


Filipe M. | fotografias (2016)


Devagar

É um lugar vago a meu lado
Ao meu lado a vaga levou o
Outro lado. É, o lugar vagou 
Ao meu lado ninguém ficou.
Lugar que ninguém ocupou
Quem foi e quem vem sabe 
Onde estou! Mas, por estar 
Ocupado neste onde estou 
Não sei bem quem chegou;
Onde fui sou eu este vazio!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 2 de agosto de 2016

Delicadeza

Havia um silêncio delicado como uma taça 
O teu pescoço quase alto, quase de gato a 
Ver mais alto a manhã alongar-se em luz o
Soalho sob a cama sob o teu corpo, o Belo
A boca diz muda que há amor fulvo chama
O olhar que se acende no fósforo o cigarro
As tuas mãos poisando-o devagar Sobes à
Altura dos meus lábios e dá-lhes os teus e 
Ainda nu, apenas os lençóis, como não ler
O braille talvez beijos a crescerem em flor. 
Um canteiro chão que se levanta, erguido.
Quase como um arco felino ou as palavras
Que se desmacham, quase antes da vaga 
Onda do mar molhar feliz a casa de areais. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)