terça-feira, 31 de janeiro de 2017

[O pão da boca]

Houve um dia que pensei que sim 

E não um não dito assim Sabemos 

Que o ocaso tem por antes bastas 

Horas; a parte que ergue o Sol até 

Ao prumo e aqueloutra que lo traz 

Já ele sombras finais rente ao mar

Se o fim tem seu princípio, um fim 

Que logo se antecipa não começa

Por princípio o pôr-do-sol tudo se

Parece, num preciso momento, ao

Seu nascer mas em tudo difere do

Que vivo se morre do nado-morto.

Erro é pensar que a ilusão é malsã

O pão sacia a fome o beijo a boca

E se aquela volta, a outra também!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

[Principia]

A única forma de viver,

Era pensar que morria;

Intuito que me anuncia 

Um final que principia!



(c) Filipe M. | fotografia e texto (2017)

sábado, 21 de janeiro de 2017

[O Dia Seguinte]

O olhar largo não é o que abarca tudo; antes 

Aquele que cônscio do todo vê uma só parte. 

Não na pena do 'apenas', mas no gozo Maior 

Do que se reporta, em pertença, ao ser Uno.


Liberdade não é o infindo espaço; que prisão 

Vasta seria! É o limite que ergue o horizonte:

Distopia do ser outro de mim, ser os lugares 

Onde não fui e donde ainda não vim. Flor da

Recusa do medo que tudo tinge tudo atinge

A Besta cuja cabeça se corta com espadas

De papel azul: "I have a dream (...) I have a 

Dream today" [Martin Luther King Jr.]. 




(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Vida fora

Trago largo tesouro

O andar eu contigo 

No peitilho vestido

O coração vizinho 

Enamorada janela 

Amor lapela fora.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Eventualmente

Sim; isso, eventualmente. Restituição. Como

Se me sentasse breve a teu lado num banco

Do jardim, algures. Percebo que envelheço - 

Outrora lugar de velhos a sessão da matiné

Seu equivalente e agora cada vez mais meu. 

Mais de mim lá; crónica dum lugar onde me 

Aporto como naquele dia tem dois invernos 

Já em que chovia tanto o tamanho a tristeza 

Que trazia vi para lá de tudo alguém que me

Sorria eu mesmo dum verão avante dizendo

Outros claros dias dessa água chorada, céu

Que nos olha e vela quando lhe imploramos 

O não-lugar o anti-nós. Um outro como não 

Fosse possível mais. Aquelas escadas onde 

Desabei e jurei, jurei nunca mais, um minuto

Apenas, eternidades de curta conveniência, 

Que não voltaria à ucronia do teu tempo. Vi 

O redor. Ao vê-lo, coloquei-me lá: na chuva

No verde, copas bailarinas aspergindo água 

E esguias de espera; fugidias pessoas acolá 

Ilustração vagas, encasacadas nos lutuosos 

Guarda-chuvas. E dei-me. Chovi, chorei e ri

Um fim de mundo na borrasca monumental. 

Depois parou. Parou. Parei. Sentei-me vazio

Exausto. Restituído. Sentindo os pés irem no 

Curso da água rente escoando-se no asfalto 

Em declive, um espelho aquoso a cintura alta 

Da cidade vagamente reflectida. Falo contigo 

Outrora vivo, e sinto a tua mão sobre a minha 

Num afago seda distraído até me acalmar no

Torpor embalado. Tu, ao longe num lugar teu 

Podes sorrir não há culpa em seres feliz após. 

Faz mossa, claro que sim mas sigo a maré na 

Cidade e vou, vou indo se for chegarei. Nada 

Se conclui. Há o aberto do fim e se principia.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 15 de janeiro de 2017

O ver de olhar

Os teus mundos de ver 

No silêncio nu dos olhos 

Dizem que vieste de ficar. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Quis inventar uma vida

Quis inventar essa outra vida onde 

Porventura coubesse. Na demanda

Percebi donde partia e fiz estaleiro 

Na cidade. Só depois soube que é

Na chegada de quem vinha o meu 

Devir: abraço dado ao mar inteiro!



(c) Filipe M. | fotografia e texto (2016)

terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Devagar

Os teus olhos devagar 

O teu olhar traz o meu 

Com vagar acolhendo 

Amor entrado em pés

De lã, cordeiro fugido 

Do altar, tem demora 

No tempo do homem

Veloz no do coração. 

O bem-querer assim 

Não imola, desperta 

Flor invés da degola.

O ver-te acordar eu 

Não supus a nudez 

Desta manhã o teu 

Olhar azul imenso 

Um recreio a pele 

Onde passeio no

Sonho de ver-te

Eterno no breve. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Como uma luva!

Pedi emprestada felicidade 

Da vestir por um dia e logo 

A devolver outro chegasse 

Seguinte. Nem larga, nem 

Justa com atino a medida 

A luva equilíbrio de pelica 

Me servia como se à mão 

Irmã gémea como nem a 

Outra ser assim tão igual. 

Se ao despi-la reganho o 

Esquecido frio, tormento 

Maior ficar com indevido 

De não me pertencer um 

Gesto maior eu encolher. 

Assim cumpri meu dever

E do frio se fez tamanho

Calor que dele me vesti!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Era uma vez

Uma vez, fazendo amor perguntado foi porque 

Chorava; disse ele (ou:, tu a mim) porque se me 

Adentra tanto Belo que o meu corpo em seu eu 

Noutro se dilata, se adianta e se desmultiplica!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Só podias ser

É estranho; sei que não estás.

Sei que não podes estar aqui

E no entanto sem que te veja 

Sei que te vou encontrar aqui

Não é tão estranho assim; há

Nisto uma porta e eu vou sou 

Dos que vai a medo o medo é

A minha valentia sei que eras 

Eras pois só podias ser. Sorri.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 3 de janeiro de 2017

O Querer

Saí porque queria chegar.

O olhar vai mais longe que 

Os pés, a imaginação mais 

Longe que o olhar, o sonho 

Mais longe que o imaginário

O mundo tem tantos lugares

Os lugares não são sítios são

Tendas dum circo que se traz

Dentro e onde chegas montas

Os teus sonhos muito além da 

Terra onde ergues alto trapézio

Do risco riso audácia de voares.

Não há mais além nem mágicos 

Reinos. Há sim o prodígio de ser.

Asas que nascem se tu quiseres!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)