domingo, 31 de janeiro de 2016

Nu Parque

Há nele um menino. Do corpo-homem ao
Corpo-menino há espaços preenchidos a
Medo. Ai medo mimo, tão pequenino que 
Não sabe sair ao caminho. Há naufrágios
Nos seus olhos dum castanho assustado, 
Ondas várias de mar cruel de nados rasos. 
O menino baloiça no baloiço entre este tão 
Pouco hoje e aqueloutros lugares d'infância 
Donde traz igual jeito avoengo de olhar feliz.
Ah! memória agridoce que quase o faz sorrir 
Chorar, assim o fizesse agora, hora d'acordar 
O quarto onde se demora a levantar: houvera 
De haver um lugar de se ser feliz doutro jeito, 
Não este recreio que faz dói-dói e tarda o óó 
Porque ainda dói depois do tempo do tempo
Estar tão perdido do próprio menino o adulto.
Tão pequenino que o olha de olhos baixos do 
Mesmo modo que faz toda a gente quando é
Incapaz de sentir ser capaz de viver feliz inda 
Aquela vez mais. Ele não, não hoje nem ontem 
Mas o menino petiz, engenheiro de tanta vida 
Recomeça a empreitada inda agora iniciada e 
Já reergue o rapaz ainda não homem-capaz
A vontade do dia. Olha o menino, todo ele é 
Vitral de sono enganado, e toma-o em seus 
Braços e sobre a janela de luz da cortina do 
Dia já aberto deita-o para que durma o seu 
Lugar. De porta aberta, de ouvido atento, o 
Sono é ainda de há pouco, toma um banho 
De águas novas para que de novo o novo!
Sai pé ante pé e vai até àquele Parque da
Cidade. Leva o tabaco na algibeira e tem 
Encontro há muito adiado consigo adulto.



sábado, 30 de janeiro de 2016

O imenso

Porque imaginar não consigo 
Algo capaz de nós maior, mais 
Alto, mais cavo que este olhar. 


(c) Filipe M. | texto 📷 Duarte Nuno de Vasconcellos (2016)


sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A risco

O risco da intimidade
Corre na tua margem 
Longitudinal em que 
Sou um lado de fora 
Arrisco sorrir e sorri
Quem para o dentro 
De si abre e acolhe.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Quando do corpo...

Imperfeita cama de corpo 
E levantá-lo; dizê-lo; vê-lo 
Na inteira luz do dia onde 
Cabe sua uma vida inteira 
Perfeito seja de liberdade. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

2

A tua boca 
Imaginada
São dois
Os lábios 
Que beijo. 




(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Gratidão

No céu abriu-se um arco-íris 
De lado a lado em cada lado 
Meu: era a tua e a outra mão. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Espelhos quebrados

Que nasçam dos espelhos que quebrámos 
Os corpos reabilitadores da palavra amante
Fazendo-se a sua inteira posse para que os 
Desapossemos da intransitiva carnalidade e 
Nasça de cada corpo o corpo depois desse 
Corpo. Não a negação corpórea mas a sua 
Precisa exultação de que regressamos por 
Ventura aumentados sem arestas de culpa. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)


domingo, 24 de janeiro de 2016

O tempo breve da demora

Trouxe-te aqui para que parasses; creio que é 
Tudo o que precisas para andar. O movimento 
Pede a pausa, o ouvinte o silêncio. Não digas 
Nada; nada te direi. As coisas chegam: assim 
Saibamos recebê-las. O corpo também veste 
A roupa; o destino indica a partida sem dizer 
Donde vem; o olhar é leito de rio não a água 
Que lhe corre assim como nós o chegarmos 
A casa donde saímos voltados. O cansaço é 
Muito breve no aparente tempo da demora. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 23 de janeiro de 2016

Alcandorar-me

Luz aura
Luz aberta 
Luz dizente 
Toma-me os 
Pés para que 
Alados subam
À altura do dia 
Da alegria e digo 
Que não há maior 
Querer que acordar 
Para te poder beijar. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015/16)

Gin St.º AnTÓNI(C)O

Gin St.º AnTÓNI(C)O


Filipe M. | título e fotografia (2016)

O trevo de quatro folhas

Já disse que te amo? 
Já disse hoje que te amo? 
Já disse ontem que te amo? 
Já disse amanhã que te amo? 


Filipe M. | texto e imagem (2016)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Saturday Night Fever

Going Out!?
Coming Out!?
Is Saturday Night Fever


Arte factos

Artefactos 


(c) Filipe M. | fotografia e imagem (2016)

Aristoi

awareness & rest




wake up dead man

Jesus, Jesus help me
I'm alone in this world
And a fucked-up world it is too.
Tell me, tell me the story
The one about eternity
And the way it's all gonna be.

Wake up, wake up dead man
Wake up, wake up dead man.

Jesus, I'm waiting here, boss
I know you're looking out for us
But maybe your hands aren't free.
Your Father, He made the world in seven
He's in charge of heaven.
Will you put a word in for me?

Wake up, wake up dead ma
Wake up, wake up dead man.

Listen to the words they'll tell you what to do
Listen over the rhythm that's confusing you
Listen to the reed in the saxophone
Listen over the hum of the radio
Listen over the sound of blades in rotation
Listen through the traffic and circulation
Listen as hope and peace try to rhyme
Listen over marching bands playing out their time.

Wake up, wake up dead man
Wake up, wake up dead man.

Jesus, were you just around the corner?
Did you think to try and warn her?
Were you working on something new?
If there's an order in all of this disorder
Is it like a tape recorder?
Can we rewind it just once more? [U2]

 
(c) Filipe M. | fotografia (2015)


quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

Ir

Fui deixando migalhas de pão
Para indicar o caminho que têm 
Os passos perdidos no regresso.
Feliz acaso: não encontrei sequer 
Uma! Fiz bagagem de mim vestida 
E sem portagens fiz-me viagem!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Luzeiro

As lâmpadas dos teus dedos acederam
o corpo natal na minha pele d'amor. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Corrente

Na embocadura do dia 
Há uma pegada de medo 
Mas somos estivadores de 
Muitos carregos e no sorriso 
Há uma corda a que me agarro. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

A parte do todo

Cada asa tem 
Metade do céu. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016) 

Conversável

Não tenho temas de conversa; 
Os temas conversam-me...


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

A invenção

Inacabado é o certo termo 
Dum tempo que se acerta
Quando o amor recomeça. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Idos

Deixei o meu corpo 
Ancorado no verso 
Daquele azo poema 
Dizendo que partira 
Para que a ti adeus 
Palavra dita jamais.


(c) Filipe M. | texto e imagem (2016)


Exportação

Desenho o círculo interior ou tu mesmo, também. Contendo a invenção do dentro, do possível dentro; tudo em potência; a especulação que se exporta na reinvenção do fora. Posso dizer por igual uma porta, uma janela, um copo, a pele, um ensejo do beijo na aurora. Fronteira estival a perder de vista: o teu nu lúcido de silêncio quente. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 17 de janeiro de 2016

Tantos...

No embate os olhos estilhaçaram-se: pude então ver-te; há galinhas inscientes por aqui e ali, ocasionais, debicando os cacos de vidro reflectindo um céu por tantos emprestado. És um e (d)outros muitos ainda um pouco mais.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 16 de janeiro de 2016

Porta

A porta sendo uma porta 
Importa tanta coisas mais 
A porta é um abre e fecha. 
Uns entram, outros saem, ela 
Assim fica, conforme a deixam. 
Aberta tudo permite em devassa; 
Se fechada impede quanto impele.
A porta não é espaço, é vírgula que 
Divide o espaço. A porta suporta seu 
Bater com calada dignidade. E ela que 
Tudo houve (ah se falasse!) é da humana 
Surdez tão injusta metáfora. É, se servida 
Em dose meia, conversa de amigos ou de 
Escárnio com tão mal-dizer; já meia-porta 
É meia medida do que se esconde e destapa.
Se ficar à porta é signo que dá dó de desgraça, 
Já o ficar-lhe atrás faz de quem assim o faz vil
Intriguista e só aquele que nas sortes do amor 
Tão cruel revés sofreu. Porta que tudo suporta, 
Comporta-se com denodado porte vertical e é
De porta em porta que se faz o nosso mendigar 
E de quem as abre gestos largos de bondade 
Entrada maior se é do árduo caminho do Alto 
A ditosa fala porque às Portas do Céu vamos 
Todos um dia bater se a boaventura nos levar!



quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

Finisterra

A tragédia do caixeiro-viajante era não haver viagem...!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Usufruto

Não procuro, encontro; 
Não acho, desperto; 
Não desejo, fruo.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016) 

Cabeça no sapato

Escrever é calçar sapatos. 
Mas do que gosto mesmo 
É d'andar de pés descalços 
Com os sapatos na cabeça!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

À mesa

A mesa dos lírios em tuas mãos posta o 
Refulgir dos argênteos talheres em sua 
Luz o trazer-te à boca em teu próprio
Corpo se alimenta o contentamento. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Alvores

Não a tua outra nua nudez que te despe 
Mas o despido alvor de que para mim te 
Vestes. 


domingo, 10 de janeiro de 2016

Lugares

Nós somos sempre um lugar a que recorremos para não esquecermos porque viemos de tão longe: é preciso um perto; o mesmo lugar onde nos deixámos quando fomos.


(c) Filipe M. | Texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Digo-o a ti

Não um
Clamor!
O rumor 
Dum rio 
D' Amor
Dito a ti.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Plano

Só a noite comporta a noite;
Só o espelho vê o meu rosto.
Quando olho o teu a partir do 
Meu é o desgosto que trago
Dentro que em ti tão claro vejo. 
Na certeza dessa vista finda 
Escolhi olhar o rio clamando 
Pelo mar porque tudo é plano 
No longe p'ra lá do meu olhar.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016) 

sábado, 2 de janeiro de 2016

A primeira pedra

Edificámos casas (me)moráveis dentro de nós.


(c) Filipe M. | texto e retrato (2016)