segunda-feira, 28 de março de 2016

Os objectos quietos andam por todo o lado
Há um barco alterado e deslizam dum para 
Outro lado da proa à ré e acusam sombras 
Aquela luz branca sem resguardo cindindo 
O dia dizendo que já é tarde e dele já só há 
Metade e a casa branca lume branco gume
E as ondas partem-se contra paredes alvas 
E sobem já não por onde não mais da altura 
Suposta e saio alagado saio para algum lado 
Onde o sol me aconteça e me aqueça meigo 
De amanhecer na cor do desmaio entardecer.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 27 de março de 2016

Cimeiro

Olhar o olhar é tão vasto esse haver 
E o que vê alastra-se assim um mar 
De planície tão grande que é na tua
Mão que me sinto e sento a te amar. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 26 de março de 2016

Colherada

A colher caiu ao chão e ficou triste por achar que voava. 
Quis andar. Ficou parada e mais triste ainda; achava que 
Andava. Não percebera seus fins, por isso também seus 
Próprios meios. É coisa de ir da mão à boca ou teleférico 
De alimento da papa quiçá primeiros momentos doutras 
Histórias d'alento porque dos condimentos certos se faz 
Crescimento e talvez que chegados nós a velhos filhos e 
Netos haja no cimo e no baixo, comandantes na carlinga:
Nós as bocas e eles as mãos que doutras bocas já fomos. 
Sabendo isto a colher percebeu que eram não estes voos 
E passos seus sentidos certos e com tal alegria se deixou 
Pegar, lavar e enxugar. Daí a nada descolava o novo voo 
Cargo de menu diversificado no novo contentamento do 
Saber-se colher tão útil como se soubesse voar ou andar.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 25 de março de 2016

Ponto de vista

Quem está de fora vê
Melhor quem lá mora. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 20 de março de 2016

Os nus e os mortos *

[ao meu pai]

É preciso que partas
É preciso que fiques
És preciso Dizermos
Que amar nus se faz 
Agora como outrora.

Vem de tantos lados 
Que pelo uso abuso 
Das nossas mãos se 
Fez redondo ao girar
Por todos os lugares. 

(*) título do primeiro romance do escritor norte-americano Norman Mailer, e que fazia (faz) parte da biblioteca do meu pai. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 18 de março de 2016

O curso

Ainda que não consigas,
Deixá-la passar e se não 
Fores não lamentes pois 
Que tudo passa por fim:
Dado passado ou futuro 
Presente é o que se nos 
Oferece Ausente ou não 
Todavia, passarão por ti. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 16 de março de 2016

Alto

Fui levado a crer que o sonho
Era a dimensão impossível do 
Viver; todavia este é caminho 
Do pequeno que se agiganta:
Do dormirmos nosso acordar.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Sufixo

Sempre disseste que estava condenado a ser feliz 
E que o prefixo que me dizia triste era um tapete       
Generoso onde limparia os pés antes de entrar. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)


Chegada

Um dia partiste e fiquei com o teu 
Rosto em minhas mãos e deitei-te 
Para que fosse possível sonhar-te. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 15 de março de 2016

Metade

Quase uma ausência 
Uma quase presença 
Metades de saudade.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Pródigo

Houve sempre água
Nesta minha sede.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 13 de março de 2016

Vagas iniciais

Porta-contentores atravessam os mares 
Imateriais com seus pesados materiais 
Gramaticais, trazendo-os à altura dos 
Meus olhos, vagas de verdes iniciais.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 12 de março de 2016

Excepto eu

Eu disse a palavra e fiquei de 
Silêncio para ouvir o início do 
Seu som. Exactamente como 
Uma onda lambendo a costa.
E a palavra inflama o metano
Do ar e acende-se no quarto
Um pássaro ou nesta cabeça  
Mas as vogais não se abrem 
No escuro da exiguidade. Há
O espaço a pedir respiração 
Para que as asas expandam
O sentido que trazem e daí
Não inteiramente a palavra 
Diáfana de cor arrebol das 
Coisas intermédias o meio
Duma coisa e outra. Sopro
Angustiado é de asas que 
Se faz o som encurralado. 
É debaixo disto a cantiga:
Um rosário de cantos de 
Choros baixinhos duma
Dor continuamente dor
Sem nunca tão grande 
Para além disto assim. 
A palavra tem rotação 
Mas a maquinaria do 
Amanhecer retarda
O seu voo e janelas 
Há do lado de fora 
Como outroras que
Se traz na algibeira
Berlindes e abafas 
Para o jogo acaso. 
Mas preciso esta!
Vê-las não me dá 
Esta deste agora. 
Eu digo a palavra
Mas meeira não 
Me disse o hoje.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 11 de março de 2016

Filiação

A resposta é sempre 
Filha da pergunta.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016; 2014)

quinta-feira, 10 de março de 2016

Digo

O eixo do beijo tem 
Bocas de cada lado. 
Dois corpos inclinados
Convergentes desejos
Nos lábios acertados 
No entorno o abraço 
Que se dá apertado. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quarta-feira, 9 de março de 2016

terça-feira, 8 de março de 2016

Do ver

Da fadiga aro
Que me casa
Aos dias dum
Grã tamanho 
De ver-me, mais 
Que o ser, assim 
Tão contrário ao 
Pensamento que 
Do Belo a própria
Ideia me alimenta. 


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)



sábado, 5 de março de 2016

Vistas

Há quartos que nos dão vistas 
Há vistas que nos dão quartos
(Esta dá-me o da minha mãe!)


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)


sexta-feira, 4 de março de 2016

Revindo

Há a curva do teu braço por onde sigo
E se trago o medo é para que não me 
Traga ele que benevolente nos embala 
No fito de acordar-nos de supetão p'la
Força do prato riso que se nos serve frio. 
Para lá do abraço o recomeço começa
E quando revier, recebê-lo-ei a quente.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 3 de março de 2016

Idos de Março

Queria dizer-te coisas; ou que mas dissesses. 
Compreender-te será uma vida: a que julgava 
Que tinha e a que julgo ter. E com as palavras 
Fiz um perímetro nosso - onde me recrio; cria 
Que procura e não cessa de procurar-te: esse
Lugar do sentido, do incondicional e absoluto. 
Onde não chega o mal e todo o bem, tão bem 
Vedado que se preserva da ferrugem do uso 
Devido e indevido e da escassez e demasia 
Do verbo que agora, nunca antes, entendo:
O princípio de tudo aquilo que se nos acaba, 
E todavia continua e insano nos parece agora 
Inventado o que sempre por ilusão nos existiu. 


(c) Filipe M. | texto e imagem (2016)

quarta-feira, 2 de março de 2016

Matéria mater

[ao meu pai, seu dia natal]

Renascente
Restituído à 
Mãe nascido.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 1 de março de 2016

Hidra

Um duplicado vive-nos dentro:
O castor que ergue barricadas. 




(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Volto já!

Ficai aí.
Volto já!
My sweet
Emocional
Serial killer.
Brevemente 
Nunca mais!
Sabes, ando 
Ocupado a 
Ser feliz!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)