segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O Recinto do Mar

Deste-me a mão 
Fui até fora-de-pé 
No recinto do mar 
Agarrado à corda 
Firme do teu olhar 
E nadei esse júbilo 
Largaste-me a mão 
Perdi o pé e fui ao
Fundo e à tona vim 
Nadei toda a corda 
P'ra te encontrar e 
Dar pudesse a mão 
à tua mão para que 
Nos possas voltar. 
Não há nada! Nado
Imensidões dentro 
Do olhar e choro 
O sal do mar 
Para não me 
Afogar. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

domingo, 30 de agosto de 2015

O dobro da metade

Só o futuro constrói pretéritos;
O passado um ponto de vista:
Paisagem que se divisa do
presente que somos /
Da água no copo por igual 
Medida meio-vazio está no
Olhar do pessimista, cheio
Por meio no crer do optimista /
Pequeno vê escasso no muito
Generoso vê fartura no pouco 
São os tamanhos que damos
Ao que por dentro trazemos /
Quem vero ama, ama menos
Hoje do que amanhã ensinou
Quem pai de dois por isso os 
Digo dois meios dum fruto só
Nados do corpo de homem e 
Mulher entre si enamorados.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


sábado, 29 de agosto de 2015

À boca da palavra

Do café o cheiro 
Da manhã a mão 
Que abre o dia e 
Traz a chávena à
Boca da palavra 
Da ternura que é 
Aroma e pretexto 
De te dizer o bom 
Dia ou da alegria 
Que em mim sou
De estar do amor 
O lugar onde este
Se faz por inteiro.

(c) Fillipe M. | texto e fotografia (2015)


sexta-feira, 28 de agosto de 2015

A luz acesa

Amar d'amor 
É tão raro que
Ainda mais raro 
É que ande a par
Gostar d'alguém é
O mais singular sentir 
E dizê-lo pode afugentar
Mas calá-lo é crer que o sol
Não irá nascer e dar sua vez à 
Lua quando anoitecer. Mas tê-lo
Do outro lado é Ser feliz a dobrar!


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

Dos teus lábios beijado

Ontem cabia nos teus braços e sabia 
o mundo por ti. Cresci ao teu andar, fazendo em copos d'água pequenas tempestades. Ainda ontem ajudei o 
teu andar. Vi-te humano amando 
os teus defeitos como tu amas os 
meus. Ficou adulta a manhã de 
domingo quando cedo o telefone 
tocou, sabendo que o mundo que 
tinha acabou. Meu velho, trago-te 
comigo e já não sou menino; esse 
fica contigo a ouvir os segredos 
dos livros que escolhias para me 
abrires as janelas, as varandas 
e as portas do mundo. De ti, 
as tuas mãos, os teus lábios, os 
teus olhos. Esses doces olhos. 
Esses teus imensos olhos! Ainda 
não me disseste nada desde então; 
sei que andas ocupado mas tenho 
que te contar os dias e dizer-me 
inteiro: os 'dinheiros', os amores, 
o trabalho, os sonhos; há livros 
para trocar, aquelas conversas 
que juntavam almoços, lanches 
e jantares! Que aconteceu!? Não 
percebi. Eu sei. Falámos. Ficou 
selado. E vou. Irei, farei, para que 
me cumpra e me junte a ti para 
bebermos o café frio, como 
gostas, e fumares esquecido 
o teu cigarro e falarmos da mãe, 
do mano e da neta. Não me 
demoro a ir ter contigo. Assim 
que acabar de viver, subirei as 
escadas a correr ao encontro 
dos teus braços, de lado a lado 
abraçado, e acabar dos teus lábios beijado. PS: não leias até muito tarde, 
mas não apagues a luz papá; ainda preciso!

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Prosa Em Azul Celeste

O menino subia pelo livro a rua que 
lia. O rapaz desce no livro a rua que 
trazia. A avenida escreve o homem 
Que se fazia. O homem Velho, novo 
Na altura, dá mundo ao menino que escrevia, em garatujas, as primeiras letras que sabia. O rapaz escreve o 
Seu nome e aprende o galope dos  nomes que traz de pai e mãe, mas 
Não sabe ainda que estes são obra
Vasta que legam para que ler possa 
Sua cidade. A de Deus e do homens. 
Ary canta com a voz emprestada do poeta um outro homem na cidade e 
A idade faz-nos caber num verso do 
Poema nunca escrito nem acabado. 
Os dois homens caminham a par no
Lado ímpar da página das suas vidas
Percorridas. E cavaqueiam do medo 
De se perder quem se ama. Escreve
Quem dorme só ou não dorme ainda 
Que só. Quem tem livros de vida não
Está nunca acompanhado é do fado 
O nascer e morrer daí o vivemos um
De cada vez o mesmo dia repetido e 
lado a lado na ilusão de que se vive 
Acompanhado. O velho homem era 
Sempre novo no homem, no rapaz, 
No menino. Tantos os lugares a que 
Por por tua mão acontecidos e ora 
Chega o tempo de escrever a prosa 
Em tintas de azuis celeste para que 
Me Possas ler porque bem vês és tu 
O meu leitor, é para ti que escrevo a 
Sobra que sempre senti neste nosso
Mundo que não aprendo. Ser-te-ei o
Peixe que nadará o teu (a)mar. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)




quarta-feira, 26 de agosto de 2015

As Palavras Abriram a Voz

O nosso sono abriu o céu
Para que pudesses entrar.
Palavra de silêncio imenso
(O que não se pode dizer)
Ficámos juntos e calados 
Palmas frondosas quando 
A nós te víssemos passar.
Um agora sem pastor mas 
As palavras abriram a voz 
E do rebanho nasceu hoje,
Aind'agora, o vasto verde 
Pasto elísio do teu (nosso) 
Paterno nome. A palavra
Amor fez-se verbo flor!

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)



terça-feira, 25 de agosto de 2015

A Mesa Enamorada

Um homem senta-se naquela mesa 
defronte a mim. Tem gestos antigos, 
De ontens vastos. O rosto emaciado 
É prenúncio do frio que se antecipa 
No agasalhado do cigarro pendente
Na mão, mais do que fumado. Nele 
O aprumo dos muitos invernos, em
Cujo olhar há as idades dos filhos 
E dos netos. Ali estou, o ler fingido, 
A ver a voluta do fumo singrando o 
ar, como assim o génio da lâmpada 
Mágica saído. No largo quase vazio 
Pontuam passantes esporádicos; a 
Cada um presta aguda atenção que 
Logo desfaz. No seu estar quieto há 
Uma inquietação dentro. Aquele seu 
Abandono do mundo comporta um 
Segredo profundo que o desmente! 
Qual será o motivo? E na demanda 
Da resposta faço cadeira. E o jogo 
Prossegue. Largos minutos depois 
Ela aparece vinda de muitos lugares
Os lábios daquele velho homem até 
Então mudos de tão calados dizem:
Demoraste tanto! Eram namorados.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


segunda-feira, 24 de agosto de 2015

A Praia Beijada

Se alguma força terei nascerá de ser, porventura, fraco. À força, nada! Por 
querer, pelo bem-querer, tudo o que 
Me falta! Tudo o que me fala; chama
Que me assinala e convoca ao inicial
Dessa forma, firme (feixe de dúvidas 
e tanto medo ainda), restituo-me a ti. 
Pouco importa quem fui, para quem
Fui. Nem quem sou, nem para quem
Possa vir a ser além de mim. Insisto 
Na consistente imaterialidade do que 
Se sonha não como vã quimera mas 
Como validação de regressos, prima 
Condição de futuros; o meu e o teu. 
Tu: enunciação aberta ao amor. Este 
como verdade revelada e o alor que 
Nos guinda do lugar desistido, para 
refazermos a rua percorrida. Somos 
Somas de desistências, de espaços 
Vazios, de baldios e baldões? Não e 
Sim. Somos a praia beijada, somos 
A vaza, somos o olhar e a onda que
Finta a dor (crude que prende a asa, 
que retarda o voo), somos regresso 
Que se repete e desfaz e por fim, ou 
começo, o ingresso p'la Porta Maior. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

domingo, 23 de agosto de 2015

Fez-se Domingo no meu peito

Um pássaro poisou no parapeito 
Janela ensonada do corpo; olhei.
Olhei-o na demora do Belo. Nem
Inquieto, nem assustadiço. Sorri.
Sorriu. Falámos breves silêncios 
Demorados e percebi. (Percebi!) 
Quando voou deixa quatro flores 
Brancas na manhã do meu peito.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

sábado, 22 de agosto de 2015

O tapete mágico

Trazias o céu debaixo do braço 
Porque cada um tem o seu céu. 
Desenrolavas com tuas mãos a 
Parte diária onde caber o sonho
Que sonhavas. E de tão grande
Foi vivido em sítios incontáveis. 
Falavas de paredes de açúcar e
Telhados de chocolate e janelas 
De palavras tantas e quantas os 
Os mundos que inventavas nas conversas servidas à mesa onde 
Nos sentávamos. Sendo menino 
Ouvir-te fazia-me grande e ainda 
Tenho as antas com que faço os 
Caminhos que me ensinaste que 
Caminho chorando e rindo de ser 
Teu filho órfão e agora teu pai de 
Amor porque sou eu que te trago
Ao colo. E também eu tenho céu
Próprio que desenrolo como um 
Tapete mágico que viaja os teus 
Olhos para que saibas os meus 
Dias andados a sonhar o sonho
Por mim sonhado para que como 
outrora, nas desoras encontremos 
um quarto-de-hora para falarmos. 
Mas se te conheço há espaço em
Teu vasto céu para caberem todos 
Os futuros-mais-que-perfeitos ou 
Não fosse o teu jeito largo d'amar. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

O dia claro

O traço para além da linha é
A proa que divisa os mares.
Só voa quem tem nas raízes 
Seus ares e só vai quem fica 
Entre a gente que fica para o 
Rir e chorar e lembrar; assim 
Como o te olhar está para os 
Olhos teus olhando os meus. 
É do vento e seu doce sopro 
Que se escuta a verdade da 
Substância imaterial do amor 
Aquela mesma que diz copas
Vivas estas mãos de árvores. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Fecho

O daqui para aí 
Parece tanto e 
Tudo se aperta 
No peito mas 
Sei que no dia 
Que me for o 
Último fecho 
O círculo e foi 
Ontem o perto

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

Feliz!

A ciranda aclara o dia 
E a dança evola a dor
E do céu caem beijos
Que beijam os meus e 
Meus olhos são iguais 
Aos teus porque o dia
Nasceu. Sou feliz, feliz 
De viver o teu nome no 
Meu e prometo-te que 
Por ti e em ti serei feliz!

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

D'amar

Pai-nosso
Que estás 
Connosco
Pai d'amar 
É do céu a
Praia-amor 
Praia-mar
Maresia
Em flor

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O lugar

É-se só no hiato de quem chega e parte. 
O lugar dúplice da saudade, asa do alor esperançado. Já fomos o porvir, breve, o passado. No presente do indicativo o ser arco-íris no jogo das portas. Oiço o bater das tuas asas e dizes o meu nome: sinal tão ansiado. Voo lesto no rumo no teu encalço. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Diário (III)

Bastava-me a coragem de não amanhecer. A noite inteira recebida; deixar que me entrasse nos pulmões e me afogasse no colo da água. O mundo é o insulto no regresso. Coragem é enganada cobardia: a luz, a clara inutilidade de tudo. A taça do Graal é um banho d'oiro sobre metal vulgar. Palavras de circunstância; jactância e um lugar à mesa para conversar ninguém. Sorrir quando não quero. Odeio a força, soa a pena capital. Merda mais a força. Força é forca. Já agora que lei define o que é ser fraco? É ir embora? Deitar a língua de fora? Adoro os marginais; os trôpegos; os desvalidos; aos direccionados, aos focados, desejo uma bússola e uma lanterna e um par de estalos bem aplicado a ver se acordavam dos seus tiques e arrebiques de imortalidade virtual. Por mim ficava por aqui. Como quem diz: por mim já ia. À Festa chega-se um pouco depois e sai-se um pouco antes, é da praxe. E a música, a mesma e má, por demais ouvida! Já ia; à francesa: sem adeus, nem merdas, nem emoções post-it; ia e pronto! Porra tudo isto! Errata: corra tudo isto o mais depressa possível. Ufa!!! Por pouco não era politicamente correto. Ainda assim, redigo: merda! 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

A Torre

Há a casa 
Inacabada 
Tirada de 
Janelas e 
Portadas 
Paredes 
(de mão
D'obra) 
Caiadas
Igual na
Cor me
Trazes a 
Tua paz 
Quando 
Inventas 
Céus que 
Lápis-lazúli
Tinge de cor
E somos uma 
Possibilidade 
Aumentada de 
Sermos apenas 
O amor sem os 
Artifícios do redor:
Ilhas a morar o mar. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)






domingo, 16 de agosto de 2015

Curta-metragem

Os dias são frágeis e febris. O gume fere o sonho. A cabeça por um fio! Deste a navalha. Morre um menino à boca da alvorada. Digo 'há demasiada luz'; digo da irrealidade insana de tudo isto e o despudor quasi insolente de não haver Natal quando há este calor de alto-forno. Nasce um homem na foz da madrugada: um pedido de última hora! Abre-se um roço onde corre a água que mal atende à tamanha sede que se fez. Não há para quem! Saiu da sala, saiu da cama, saiu o espectador. Fuga mundi. Que horas são? Quem ficou com todas as horas; o tempo parou: tic-tac-tic-tac-tic-tac; onomatopeia sincopada, música cardíaca. Traço acima-e-abaixo-acima-e-abaixo; continuo. Uma linha final, inquietamente horizontal. Uma bala atinge púrpura a flor no amplexo da madrugada. Curta-metragem, afinal! 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

sábado, 15 de agosto de 2015

Sétimo

Trago-te este dia embrulhado em papel pardo para não arrefecer; toma-o, assim, para que te aqueças deste frio que se fez Agosto. Aceita! Terás o sol da manhã, o vento cálido da tarde e o véu da noite para te aconchegar. Vieram os deuses benfazejos ofertá-lo para que to desse em próprias mãos para te consolar da tristeza que somos sem lugar. Tanta, mais que muita, infinita, mas bebe-o! Sermos da alegria pode tardar mas há-de chegar; temos Nele o arrimo, Aquele que passou a morar em nós o amor em vastos infinitos de mar! [Pipo]

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Flores

Quando aconteceu a planície inclemente, houve gente que nos trouxe a sombra da água e do pão ázimo no colo das mãos. (Pipo)

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Entreaberta

Só o silêncio tem todas as palavras. 
Dizê-lo ou escrevê-lo, um risco ténue 
na plenitude; porém, porta que se abre, breve, para que o indizível se oiça e ler 
se possa tudo o que não se inscreve. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

terça-feira, 11 de agosto de 2015

(VII)

Quando os meus 
Olhos têm sede 
Bebem água 
Nos teus. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Pai

Se o sentido se perde por dentro vai-se por fora, para que tomem conta de nós. O rio é o prefixo do mar; a porta sugere a mão que nos transporta, a ti, já tão Maior. E no teu leito natal, onde agora a mais Bela viagem, sonha-nos do Alto Lugar e vem buscar-nos para que, juntos, como outrora, possamos começar. E se do Amor o olhar, é no teu que, doravante, ficaremos a morar. (Pipo)

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

domingo, 9 de agosto de 2015

O balão

Pés de chumbo 
E asas de papel 
Mas é um balão 
(Que trago
P'la mão)
Minh'alma
E coração

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015.) 

sábado, 8 de agosto de 2015

Correntes

Tive 
Sonhos 
Cubistas
Dadaístas 
Surrealistas
Acordei realista 
Pensei simbolista
Errei abstracionista
(Pintei os teus lábios 
Sombreei teus olhos
Desenhei o novo dia)
Sem ti, decadentista.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)







sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Queda (III)

Perdi demasiado tempo 
Com medo de que o céu
Me caísse em cima. 
Caiu! 
Desde então,
Ando nas nuvens!

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Transitivo

Ser não é conciso
Impreciso é nosso ser
Para o Ser ser inteiro.
Porque, se avisados 
Formos, constata-se 
Ser transitivo o verbo 
Viver. Melhor que o
Ser, é ser-se Sendo 
Porque entre o que fui 
E o que serei, chegar lá
Não sei, há o sermos
Em gerúndio tempo de 
Ser, de todos, o que me 
Agrada mais porque, muito
Melhor que amar é o estar 
Amando. Caramba! Assim 
Demora muito, muito mais. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

tic-tac-tic-tac

recobro / um shot / um choque / despertador / tic-tac-tic-tac / levantar / pés de chumbo / por onde; onde? / a quem me chorar? / nem colo, nem lugar / Ninguém / Mãe!(Oh minha Mãe) / o mundo! / tão grande / Não! / e dizê-lo / é mais / é muito mais! / ser feliz é lugar d'alguém / estou pronto / Vem / Mas vem por bem! 


Aos pares

Uma palavra é porta 
(que se diz da boca)
Duas palavras é janela
(dois pares de lábios) 
Várias palavras é escada
(mirada é alvo apontado)
Muitas mais são uma rua 
(é do alto o voo picado) 
Mais ainda, são avenidas
(silêncio! Que se beijam!)

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

(d)escrito

Não escrevo. Peço emprestado o mundo e as tantas coisas belas do mundo e as tantas pessoas que amo no mundo. Um copo não é a água, mas é por ele que a bebo. A areia não é o mar, mas é o banco onde me sento e sinto a vê-lo. Não escrevo; sou (d)escrito. Sou grato. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

diário (II)

O olhar atravessa a porta e vê dentro de si aquela por quem (des)espera. A eternidade dos escassos minutos. E uma vida no olhar inscrita. A história dum homem e duma mulher. Poderia falar da tristeza que vi; escolho falar do amor que senti. Aprendi que no escuro há traços da luz e, talvez por isso, nada haja de mais solar do que a sombra. Dei-lhe a mão e ficámos ali, calados, a falar olhares. Eu a namorá-lo e ele a namorar a porta. Esse homem é meu pai; essa mulher é minha mãe. A chave ressoa e à sua chegada tudo muda; finalmente bebe água quem tanta sede tinha. E o olhar revive. Os namorados devem namorar o amor; estaria a mais: saí. Feliz. Percebi o que é uma porta: nada!
2015/08/04.

sábado, 1 de agosto de 2015

Nu amor

Amar-te desenha a ave. Seu corpo céu. O meu. Dou-to no leito das penas para que o leves à rua do teu peito. E olho-te; olho-te até dormir-te dentro. E quando acordo, há o frio bom do Dezembro natal e é destes olhos em parapeito, amores-perfeitos, que te vejo rio nu mar. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)