sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A ilha

Eu trouxe-me ficando

Agora que não ouves

Digo as palavras que 

Já posso Que te amo 

E sempre que houver 

Brisa, verei teu rosto 

Cabelos de vento eu 

Beijo na manhã cedo 

E nesta ilusão malsã 

Brilhas ínsua d'anelo.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)


quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Cabimento

Quando coubémos o dia que o tamanho da tua 

mão trouxe, soube que nos fazias teu o mar que 

amo para que pudéssemos chorar sem ninguém 

ver e sendo assim tão teu no-lo deste para que 

pudéssemos vestir e alimentar-nos para fazer a

Rota: levá-lo em paz no Amor à sua Eternidade.

[Foto: Nuno de Vasconcellos, Madeira - 2016]



(c) Filipe M. | texto (2017)

quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Na morada

O habitar-te o rio; por mais 

Que mo diga, por mais que 

Mo digas, há um rio que não 

Me sei dizer tão vasto ele é. 

Um rio cujo casario encima 

Para que te possa ver. Um

Rio que confina no rente

Mar. Ambos o saberem 

Que te vou encontrar

Há o rio na morada 

Do Tejo, nome pai. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Percurso

Era como se tivesse saído do curso 

Do rio e o percorresse inteiro pelas 

Cesuras das baínhas; são margens

Calças arregaçadas de água fresca

Salpicadas, um sorriso a montante, 

Baptismo festivo do novo dia nado! 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Aniversário

Hoje é domingo de manhã de há um ano;

Hoje é verão do mesmo canto de agosto;

Hoje trago a flor branca que levo do mar;

Hoje, como ontem, meu pai eternamente.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)



Laterais

À boca da nascente, nascemos todos rio em 

Penhor da foz; metonímia do mais vasto mar. 

Todavia, há aqueles cujo viver gera margens;

O caudal é forte e nem sempre os braços se 

Afoitam. Acontecem ficar represos e laterais.

Indevido curso. Um apeadeiro é descaminho

Se se faz lugar mais do que breve. Marginais

Dizemos embarcados!! Descreio. Corre-lhes

Dentro o rio sem rumor para nós tão surdos! 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 24 de setembro de 2016

Pausa

Nas pausas, no que se interpõe, no que se 

evapora, no que se aquieta, no que se cala 

Vêm, vagorosos de tímidos, de antanho, os 

Sons que tecemos: um tear que montámos 

De braços, de abraços, das palavras: bojos

Da Arca de Noé para nossas justas viagens

Um beijo a quatro lábios e d'olhos pintados 

Pretextos vagos de sermos frente-a-frente 

O sabermos e do medo que temos inventar

Um dia que o destrua e tocarmo-nos. Dois 

crentes; no recreio a vida seus lápis de cor 

Que trazemos no estojo dos olhos e beijos

Dados são agora pássaros que voámos no

Céu inda agora desenhado, onde cabes tu 

Agora na varanda da eternidade. Eles vêm

Por nós trazer-nos seus sons musicais, as 

Mãos em oferta que nos afagam, amando.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Gravidade

Nascidos os frutos, árvores 

Trouxeram a nova estação. 

O beijo caiu sobre a pele. 

Não imagino coisa mais 

Bela tua ceara: a noite

Escura à Lua despida.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Segredo

Este momento; este tão íntimo momento; tão curto

Tão longo aqui dentro momento. Um murmúrio um 

Véu sopro do céu tua mão como a quilha do barco 

Quase imóvel de movimento sentindo a corrente e

Sabe agora o segredo mais fundo, fecundo corpo

O dirá a um outro quando a hora chegar. O tempo 

Do silêncio, do vento, da canção cantada, embalo 

Maternal quando no fim tudo começa. Um timbre,

Repercute no ar límpido o som da nota da aurora 

E em seu voo há os meus dedos a desenharem o 

Teu lábio e uma segunda vez o teu outro lábio da 

Tua boca são notas, partitura do meu mundo teu. 

E cantas a nossa mais antiga canção. Inventando

Possibilidades, demos as mãos e começámos os

Corpos devagar; deixámo-los falar. Nessa espera 

Fizemos amor para o dar no momento das sedes 

Sim, virá o tempo até que por findo o tomaremos

Por tão longo, por tão curto, por tão isto e aquilo

E nesse instante, no ponto agudo, haverá a água 

Para a bebermos na torna-viagem de morrermos. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Emily Dickinson

A uma luz evanescente

Vemos mais agudamente

Que à da candeia que fica.

Algo há na fuga silente

Que aclara a vista da gente

E aos raios afia.

[Emily Dickinson]

(Trad. Jorge de Sena)



(c) Filipe M. | fotografia (2016)

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Matina

O vento diz o Outono em breve quando o rio traz as 
gaivotas que abrem a cortina da matina e as gentes 
nocturnas acamam vícios e novo turno sucede e há
Os rostos do mercado com verduras, frutas e flores.
Há de vir o pescado um pouco mais tarde. A Lisboa 
Do Cesário tem do seu Verde nome jardim ali quase 
Ao lado onde o café pretextuará o cigarro e primas 
Palavras ensonadas se levantam antes de quem as 
Diz. Esta cidade que amanhece, canta o poema do 
Sérgio, fez-me feliz quando beijo meu doce Pai rio!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Ao fim

Ao abraçar meu fim 

Como possibilidade 

De começos, soube 

Que me nascia para 

Esta gozosa alegria. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Alecrim

Amor, meu amor, oh meu tão grande amor, eu vim desse outro sentido não foras tu, uma vez mais, a dares-me o travor do alecrim d'alegria. Deixai-me agora dar-te eu a minha à tua, essa mesma mão que tu quiseste fosse minha para que não mais eu perder-me nessoutro infindo lugar onde não moro! 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

domingo, 18 de setembro de 2016

Crónica II

Uma cicatriz. Como se uma porta entreaberta 

Discretamente se fechasse, deixando presa a 

Peça de roupa da véspera dum corpo d'amor

Que desaconteceu e paira procurando outro 

Lugar. O ombro superfície lunar e a sua mão 

Plumitiva dizendo murmúrios na longa costa 

Da tua pele; uma crónica que escorre que se

Espraia em vontade e rumo próprio o para lá

Das minhas mãos que desembarcam no que 

Viajam. Restituição? Ah não Nunca o mesmo

 Lugar, tão-pouco o olhar. O dique represa as 

Águas; mas, uma vez libertas, tudo apagam!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Crónica

O silêncio aguarda a fala

No céu, azulando a noite 

Há o prenúncio das aves 

Nos lugares mais altos e

Os galos de quintais dão 

As horas matinais. Junto 

Ao rio, daqui uma nesga

Escrevi a crónica da paz

Que sinto pelo que vejo!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Intervalo II

Agora vai parecer muito tempo 

Este instante em que olho para 

O que falta como infinito curso 

E, ainda que não saiba o modo 

Nem o tempo, é demasia tudo 

O que sinto. A linha curva fará 

Um arco de fecho; no prelúdio 

Olhar o soubesse breve assim!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Intervalo

Entre nós interpôs-se o corpo;

Essoutro privando um do outro.





(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

The Sheltering Sky, Paul Bowles

Death is always on the way, but the fact that you don't know when it will arrive seems to take away from the finiteness of life. It's that terrible precision that we hate so much. But because we don't know, we get to think of life as an inexhaustible well. Yet everything happens a certain number of times, and a very small number, really. How many more times will you remember a certain afternoon of your childhood, some afternoon that's so deeply a part of your being that you can't even conceive of your life without it? Perhaps four or five times more. Perhaps not even. How many more times will you watch the full moon rise? Perhaps twenty. And yet it all seems limitless!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)


terça-feira, 13 de setembro de 2016

Abrigo

No meu rosto defronte 
Ao teu pausa a saudade.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

As cores do sol

Longe me leva este silêncio
E o sentir que se altera
São as cores do sol.

[Pedro Ayres de Magalhães, Madredeus]


(c) Filipe M. | fotografia (2016)

Um segundo sequer

Importa a liberdade 
de não ceder à vida, 
um segundo sequer.

[Natércia Freire]



(c) Filipe M. | fotografia (2016)

sábado, 10 de setembro de 2016

Imensamente belos

Num dia foramos novos
Noutro éramos velhos
E sabíamo-nos belos 
Sem saber porquê.
Demos aquele tão 
Antigo beijo Nívea
Nudez primordial.
Inaugural tua pele
Do amor só nosso 
O mais alto espelho
Desta chorada alegria
Lágrimas de pétalas a flor,
Por teu peito d'Outono caídas.
Seremos os imensamente belos,
Porque morreremos já tão novos 
O anel fechado; pergunta aberta!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Todos os Homens

Todos os homens hão-de 
Espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a 
Luz com sua espada azul.

[Ezra Pound]
(Trad. Augusto de Campos)



(c) Filipe M. | fotografia (2016)

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O Ensaio

I We rehearse our dreams
before we dream them
and it has the mystifying
smell of strange flowers.

[Lekshmy Sujathan Kerala]



(c) Filipe M. | fotografia (2016)

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Deal

You got a fast car
I want a ticket to anywhere
Maybe we make a deal
[Tracy Chapman]



(c) Filipe M. | fotografia (2016)

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Incerto sitio

Onde não puderes amar não te demores.
[Augusto Branco]



(c) Filipe M. | fotografia (2016)


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Maria

Maria a devolver tanta coisa 
de que quase me esquecia! 



Filipe M. | fotografia.1 
Nuno de Vasconcellos | fotografias 2, 3,4.



domingo, 4 de setembro de 2016

O lado de fora

Escrevo o lado de fora
Dizendo em engano a 
Mim mesmo que digo 
O que me vai dentro. 
O dentro não se me 
Afora e pra que não
Entre nem eu, nem
Tanta gente nunca 
Nem agora ergo a
Gramatical ilusão 
De, por palavras
Revelar meu ser. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sábado, 3 de setembro de 2016

Devagar

Alguém que me guarde as lágrimas 
Respondi-te? É cedo, ainda. A noite
Persiste mas em manhã, o novo dia 
Virá. Olho-te ao meu lado o cabelo
Desalinhado contrasta na orla alva 
Da almofada. A respiração tão leve
Expande e retrai o teu corpo assim
Como um barco dormitando o mar
Gasto o olhar olhando-te. Devagar
Vagueiam minhas mãos teu sonho 
Acordado e sei que te amo. Traço
Longo cujo desenho guardado na
Moldura encima, ainda, meu sono
E, sem que percebas que de tudo 
Despojado abeiro-me e mergulho
As mil léguas submarinas; peixes
Nadam debaixo da tua pele. Vejo
Coisas belas teu sorrir aberto se
Ainda maior, teu olhar. Tudo isto 
Invento. Perguntaras por quem?
Por alguém que diga meu amor!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Porque corro?

Por vezes tenho que voltar atrás para me 
Buscar. Distraio-me com facilidade e fico 
Muito à frente; este ir e vir cansa alguma 
Coisa. Não falo do físico que se recupera
Depressa; digo do que acontece adentro. 
Dizem que vou devagar e é tão depressa 
O que se desfaz o que temos por certo e
Ainda que regresse, não há conserto das
Coisas pregressas. É para acalmar a ideia 
De que enlouqueço Se existiu estranheza
É todo o sobrevivo e ainda que haja verde
Vejo árvores, campos, lugares calcinados
E se o que existiu inexiste não me assiste 
Este presente onde todas as coisas julgo 
Sombras. Porque corro? Futuro passado!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Among Angels

Only you can do something about it.
There's no-one there, my friend, any better.
I might know what you mean when you say you fall apart.
Aren't we all the same? In and out of doubt.
I can see angels standing around you.
They shimmer like mirrors in Summer.
But you don't know it.
And they will carry you o'er the walls.
If you need us, just call.
Rest your weary world in their hands.
Lay your broken laugh at their feet.
I can see angels around you.
They shimmer like mirrors in Summer.
There's someone who's loved you forever but you don't know it.
You might feel it and just not show it.
[Kate Bush, 'Among Angels']



(c) Filipe M. | fotografia (2016)