segunda-feira, 29 de maio de 2017

[locus]

É no lugar da impossibilidade 

O sítio certo dessa morte. Que 

Num outro se reviva o sobrevivo

Doutra sorte, nunca nada adiante.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)


domingo, 28 de maio de 2017

[Aportagem]

Fiz do braço maneira 

De te chegar, da mão

Um gesto de te tocar 

Da boca a doca beijo 

Para na tua o aportar. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)



sábado, 27 de maio de 2017

[Atritos]

Alguém veja o que se passa!

Assim nem eu, nem ninguém 

Passa saídos do impasse que 

Impede o passo que abranda 

A vontade que já de si balança 

Entre a comodidade incómoda

Do ficar e a preguiça resoluta do ir.


O pretexto é uma chave que se

Esconde, não vá alguém avisado

Perceber que o fechado também 

Se pode abrir e lá teremos todos d'ir 

No contentamento muito contrariados!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

sexta-feira, 26 de maio de 2017

[Maquinário]

Se o olhar te inventasse:

Uma máquina dum fazer 

Feliz artesanal Um torno 

Numa oficina de sonhos 

Estragados Ferramentas 

D'imaginação; Pinóquios 

Com seus longos narizes 

D'algodão doce-verdade 

Sobem ao paralelo deus

Que inventou o coração 

Para podermos o amor,

Como céus pode a ave. 

Reparo a real intenção 

Não do que em ti olho

Mas o que da tristeza

De minha vida apenas

Indevida lhe imponho!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quinta-feira, 25 de maio de 2017

[Retoma]

Inacabado é o certo termo 

Dum tempo que se acerta

Quando o amor recomeça. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quarta-feira, 24 de maio de 2017

[Set'Ondas]

Quando era miúdo contava sete ondas 

No mar para que mal algum pudesse a

Mim chegar e outras sete vieram anos 

Após dizer-me que parasse de chorar,

Porque inda sete viriam do teu próprio 

Mar por cada vez que me visses sorrir. 

Construí na orla uma casa d'areia para

Que em cada onda sete beijos d'amar.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

terça-feira, 23 de maio de 2017

[Imprevisto]

Amor, teu amor

Meu amor inteiro 

Meu amor primeiro 

Esse que do inverno 

Meu sem ti primavera

Foi assim que te vi; eu 

Que julguei as estações 

Em mim terminadas são 

Por tuas mãos chegadas.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

[da invisibilidade]

Havia uma planície em tumulto.

Não vias? Não vias! Um modo

De estar só, que ninguém via.

Havia eu, havias tu, ninguém 

Diria! Fingias tu, fingimento

Meu que não o fazia. Grito 

Mudo que já não te cabia.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

domingo, 21 de maio de 2017

[Animalia]

Lady Mary 🐾



(c) Filipe M. | fotografia (2017)

[Percepção]

Alonga sombra o objecto

Gesto suspenso para que 

Me inteire inteiramente do 

Seu aparente movimento.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

[À Parte]

Quem parte, sabemos, leva a parte 

Que nos cabia a nós. Ficarmos sem 

Ti e já sem nós na parte que de nós 

Parte. Se quem reparte ficar com a 

Melhor parte, então confirma triste 

Sorte de quem fica, que apartados 

É caminho sem volta. Haja quem na 

Fé se levante quando de alcatrão se

Faz pez na voz ao chamar teu nome

Pronome quando se o diz a saudade.

Mas se também de nós em ti a parte 

Que te coube então não inteiramente 

Completa a viagem cujo fecho somos 

A peça que falta ah morreremos então 

Um amanhar ou o entardecer o mesmo 

Acontecer doutro jeito: noite e dia e dia 

E noite em seus permeios. Assim talvez

Tu também: o dia imenso na nossa noite. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

[Meia-porta]

A intimidade é o 

Que do dentro 

Se insinua de

Si para fora.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

[Filiação]

A sombra é pura 

Instância do Sol. 



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

[O Cisne]

Faz tarde a alegria que ignoras

A queimadura do sol que aflora 

É Setembro no teu mar recordo 

Era sul onde me fui lá buscar-te

E fomos de fim nadar abraçados. 




(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)


quinta-feira, 18 de maio de 2017

[Intitulado]

Queriam ver naquela tristeza toda de que 

Falava uma Pangeia por tão imensamente 

Escrita. Quando em verdade é um eco do 

Mesmo emitido som da voz. Um arauto, o 

Promontório donde essa terra uma se vê

Repartida (como o pão que todos saciou) 

Por mundos vários do mundo só. Do mais 

Alto ponto ainda divisar que não fosse tal 

Tristeza relevo jamais perceberia que tão

Pequena é no desigual tamanho d'alegria.

Que me importa a sentinela se a ela devo 

A desatenção com que ando na rua. Vida 

Vejo-a profusa de desmedida nas ínfimas 

Coisas. Mas quem até ela lhe leva a água 

Dessa mesma sede que nos faz bebê-la?

Cada um seu jeito; o meu é assim. Se por 

Cada lágrima (chorada ou não) um sorrir

Meu, faço aquilo que ela silente me está 

A pedir. Quem pode ver por mais barcos 

Que andem a navegar capazes inda que 

Todos juntos de cobrir o imenso do mar?

Não por acaso as escritas letras de tinta 

São sempre menores que o papel, como

No céu o é menor-maior o voo das aves.

A costura dá a junta tal como a margem 

O rio. Igual com a alegria que no inverso 

Proporcional em tristeza se permite ser!



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

quinta-feira, 11 de maio de 2017

[inteireza]

O sonho é na inteira 

Possibilidade o real.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

terça-feira, 9 de maio de 2017

[O dia nono]

Quem julga ver na saudade o

Passado a si mesmo engana

Esse futuro já sem verdade.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)