terça-feira, 25 de agosto de 2015

A Mesa Enamorada

Um homem senta-se naquela mesa 
defronte a mim. Tem gestos antigos, 
De ontens vastos. O rosto emaciado 
É prenúncio do frio que se antecipa 
No agasalhado do cigarro pendente
Na mão, mais do que fumado. Nele 
O aprumo dos muitos invernos, em
Cujo olhar há as idades dos filhos 
E dos netos. Ali estou, o ler fingido, 
A ver a voluta do fumo singrando o 
ar, como assim o génio da lâmpada 
Mágica saído. No largo quase vazio 
Pontuam passantes esporádicos; a 
Cada um presta aguda atenção que 
Logo desfaz. No seu estar quieto há 
Uma inquietação dentro. Aquele seu 
Abandono do mundo comporta um 
Segredo profundo que o desmente! 
Qual será o motivo? E na demanda 
Da resposta faço cadeira. E o jogo 
Prossegue. Largos minutos depois 
Ela aparece vinda de muitos lugares
Os lábios daquele velho homem até 
Então mudos de tão calados dizem:
Demoraste tanto! Eram namorados.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


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