sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Dos teus lábios beijado

Ontem cabia nos teus braços e sabia 
o mundo por ti. Cresci ao teu andar, fazendo em copos d'água pequenas tempestades. Ainda ontem ajudei o 
teu andar. Vi-te humano amando 
os teus defeitos como tu amas os 
meus. Ficou adulta a manhã de 
domingo quando cedo o telefone 
tocou, sabendo que o mundo que 
tinha acabou. Meu velho, trago-te 
comigo e já não sou menino; esse 
fica contigo a ouvir os segredos 
dos livros que escolhias para me 
abrires as janelas, as varandas 
e as portas do mundo. De ti, 
as tuas mãos, os teus lábios, os 
teus olhos. Esses doces olhos. 
Esses teus imensos olhos! Ainda 
não me disseste nada desde então; 
sei que andas ocupado mas tenho 
que te contar os dias e dizer-me 
inteiro: os 'dinheiros', os amores, 
o trabalho, os sonhos; há livros 
para trocar, aquelas conversas 
que juntavam almoços, lanches 
e jantares! Que aconteceu!? Não 
percebi. Eu sei. Falámos. Ficou 
selado. E vou. Irei, farei, para que 
me cumpra e me junte a ti para 
bebermos o café frio, como 
gostas, e fumares esquecido 
o teu cigarro e falarmos da mãe, 
do mano e da neta. Não me 
demoro a ir ter contigo. Assim 
que acabar de viver, subirei as 
escadas a correr ao encontro 
dos teus braços, de lado a lado 
abraçado, e acabar dos teus lábios beijado. PS: não leias até muito tarde, 
mas não apagues a luz papá; ainda preciso!

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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