domingo, 16 de agosto de 2015

Curta-metragem

Os dias são frágeis e febris. O gume fere o sonho. A cabeça por um fio! Deste a navalha. Morre um menino à boca da alvorada. Digo 'há demasiada luz'; digo da irrealidade insana de tudo isto e o despudor quasi insolente de não haver Natal quando há este calor de alto-forno. Nasce um homem na foz da madrugada: um pedido de última hora! Abre-se um roço onde corre a água que mal atende à tamanha sede que se fez. Não há para quem! Saiu da sala, saiu da cama, saiu o espectador. Fuga mundi. Que horas são? Quem ficou com todas as horas; o tempo parou: tic-tac-tic-tac-tic-tac; onomatopeia sincopada, música cardíaca. Traço acima-e-abaixo-acima-e-abaixo; continuo. Uma linha final, inquietamente horizontal. Uma bala atinge púrpura a flor no amplexo da madrugada. Curta-metragem, afinal! 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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