sábado, 10 de outubro de 2015

Rumor

Chegou a chuva. Uma evidência? 
Não; chegou a chuva! Quando se 
Disse tudo, dizias, calamo-nos no 
Silêncio e começa-se de novo de
Regresso ao princípio. Olho o teu 
Rosto. Uma evidência, ou apenas 
O teu rosto? Não; o teu rosto! Nele
Vejo traços do novo mas vislumbro
Traços dele para velho. O que será 
Um rumor? Dizias: é o último lugar 
Duma plateia; mas estamos, ainda 
Que longe. Estamos onde? Dizias: 
Em lugar. O lugar é o sítio onde se 
Está. O lugar somos nós. A cadeira 
Que se abre e fecha. Ainda a olhar 
O teu rosto. A cadeira de ser lugar,
A chuva que chegou sem avisar e 
Tu, meu amor, porque te atrasaste? 
Bem sei. Não ligues. É desatenção 
Minha; sabes, minutos antes, ainda 
Deitado ouvi da portada que teimo 
Aberta o canto breve da ave. Breve.
E não voltaste e eu olho o teu rosto 
Os meus olhos a desenharem o teu
Para to levar. Dizias: sei o meu rosto 
Pelo teu. Não te direi nada, peço-te 
Apenas que devolvas o meu para te 
Poder olhar a partir deste lugar. 
 
(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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