quinta-feira, 1 de outubro de 2015

A Visita

E és chegado aqui, ao amplo 
Espaço: de mim e das tantas 
Ausências. Podes entrar por 
Essa porta que fiz para que 
Entrasses. Sairás no tempo 
Que julgares certo. Intervalo 
É isto: a sala só de ninguém. 
O instante (de minutos horas
Dias meses anos) que dizes 
Que contas deitar à vida ou 
Contas do ábaco das mãos
Um punhado de dias assim 
Outros assado e momentos 
Resumos dos diários que te 
Escrevo para que esqueças
De mim, ser desencontrado. 
Faço o tempo envelhecendo, 
Olho os retratos tão quietos 
São fitas de cinema com as 
Vozes originais silenciadas,
Dobradas com as vozes do
Tempo em que me falavam. 
Minto se disser que já não 
Espero; mas não sei o quê, 
Nem por quem. Sou a praia 
Não tenho como negar mar 
Mas sabes parece que toda 
Aquela imensa água ficou lá 
No fundo inatingível de mim 
Onde a sede que tenho está 
Apenas um passo atrás, um 
Passo desesperançado de ti. 
Podes sair; fiz esta porta 
Para que pudesses sair! 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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