sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O Bilhete

Por enquanto aqui. Não por cá, um 
Mal disfarçado encolher de ombros 
Que me nego. Cá; aqui. Diziam que 
Colheríamos as flores dos caminhos. 
As flores são prendas para que as 
Contemplemos; plantá-las para que 
Mais hajam. São escassas, sempre 
Poucas ainda que as digam muitas. 
E descaminho; a passadeira que se 
Enrola aos passos já percorridos e 
Se distende no que houver ainda a 
Dizer com os pés. Ah se estes dois 
Falassem! Calava-se o mundo para 
Ouvi-los. Quantas palavras, quantas 
Lágrimas, quantas facadas e mortes 
Simbólicas se apaziguaram nas ruas
Das cidades que trazemos de dentro 
Para fora. Por enquanto. Os favores 
Da luz, o vento brando sobre a pele. 
O olhar que sorri, a inclinação da luz 
A dar-nos o dorso e vamos felizes à
Boleia para a parte incerta de nós a 
Que comporta tudo o que ainda não 
Dissemos, o que ainda não vimos, o 
Que ainda não fizemos. Depois, no 
Longe do mar desenhamos o barco
A aproximar-se; surge o passadiço 
E subimos e há um círculo que se 
Fecha lídimo porquanto se ganha 
O justo bilhete da Viagem. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)


Sem comentários:

Enviar um comentário