domingo, 28 de junho de 2015

Os Jardins

O mor dos 'jardins' que fruímos não nasceram do nada. São fruto de quem os plantou com sacrifícios e lutas duma heroicidade anónima que o tempo desbotou ou relegou e cuja dimensão nenhuma narrativa ou fotografia (real ou simbólica) capta, ou captará, na sua inteireza. 
E se por um lado essa fruição sem a noção da intrínseca historicidade das coisas (tomadas por adquiridas) é o sinal elogioso de que essa sementeira vingou, por outro, incorremos no perigo de não percebermos, em zelo, a sua absoluta fragilidade e o quanto se erguem silenciosamente sebes carnívoras. As 'flores' desses 'jardins' não são para colher; são para contemplar para que os digamos, vivos e frondosos, aos vindouros; não como possibilidades ou relíquias desaparecidas, mas como um efectivo e sempriterno recordatório da nossa precária contingência humana e que nessa premissa os reguemos e podemos movidos pela gratidão devida quer a esses excelsos 'jardineiros', quer ao bem-querer dos filhos que soubermos gerar e criar; não como "Flores do Mal," mas como fautores de dias novos e que sejam eles retrovisores do respeito e memória devidas aos que souberam viver (inconformados) os dias velhos. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)



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