segunda-feira, 15 de junho de 2015

Os dias

Não é que os dias não sejam dias na mesma. São-no. E, contudo, duma sorte que não sei explicar, muito menos para mim mesmo, parecem cópias perfeitas de dias e, assim sendo, ou assim me parecendo, o não são, ao fim ao cabo. Roupa emprestada - é essa a sensação; aproximada e imprecisa noção. Amanhece e anoitece; amanheço e anoiteço na sua baínha, assim como a sombra caminha a par da matéria e no favor da luz. Nem alegre, nem triste. Muito menos ausente, pois que seria estar, duplicado, num outro lugar; e não estou. Alhures quanto nenhures. Por vezes, há recessos onde o mar nos entra adentro e nos acolhe e nos chama para uma breve noção de pertença e depois, na maré vazante, nos restitui ao antes, a um sempre eterno agora. Aprendo que há lugares intermédios; aprendo o afago guloso do silêncio que nos chama para si. E no silêncio estendemos-nos, como um corpo que encontra repouso na mesma cama daquela manhã ou duma outra imprecisa manhã. Nem sono, nem vigília. E no silêncio vão cabendo todas as palavras e também as vozes que se deram a ouvir, e todos os gestos voantes ora regressados ao ninho inicial. E cabemos nós, deixando o tamanho antes de o entrarmos. E se o silêncio contém a luz e assim esta no que tem de escuro, também nós nos contemos. Por vezes atemo-nos, por vezes contamo-nos. Por vezes, nem uma coisa, nem outra. E a lonjura é um lugar - pouco importa se perdido ou desejado; pouco importa se é pretérito mais do que perfeito ou imperfeito ou futuro ou uma corda, que é viagem ou regresso. A lonjura é o silêncio da distância e nenhuma delas é nossa. A ser, sê-lo-iam ao contrário! Mas se "um galo risca o silêncio e já é manhã", então, de propósito ou por lapso intencional, a porta (que é sempre um janela para os pés dos olhos) está entreaberta e vou sair... Nem daqui, nem para aí. Sair: a única forma que conheço de voltar... 


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