domingo, 7 de junho de 2015

Limão

Se pudesse, estendia a manhã na corda da roupa. O cheiro a alvura-limão das peças ondulantes sob a batuta do vento brando. Do lado de dentro da janela, no aconchego da casa, passeio memórias: breves. Chegam como visitas só de passagem, deixando no ar aromas femininos. As memórias são gatos; lugares de casas sem dono. Vêm ao colo e partem logo. São delas mesmas. E há um travo agridoce de tristeza e de alegria. Acendo o cigarro que arde rubro nos dedos e imagino afagos e destinos na planura da tua pele onde e donde, como pista doutros voos, chegavam e partiam estas mãos que, dum certo modo, já foram minhas. 
Todavia, há uma janela 
E defronte a cidade. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2014; 2015)

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