quinta-feira, 4 de junho de 2015

Os (a)braços da alegria

Às primeiras horas da manhã de hoje a luz era dum tímido azul com resquícios de noite e o frio continha com precisão os traços da praça. Os pássaros pontuavam a calçada e um ou outro ensaiava um breve voo. Os candeeiros acesos diziam ainda do ontem que alumiaram e naquele café caras que fui fixando e as suas mãos procuravam calor no fundo dos bolsos. Gente de cabelos encanecidos e rasgos duma outra cidade. Um velho vadio transportava pertences como se duma casa habitada ao relento se tratasse - figura esguia, de vertical dignidade. Há um rumor de trânsito mais adiante e inoportuno nesta pequena cidade de prédios débeis. Foram breves instantes; foram-me belos e trouxe-os comigo e tenho-os rememorado: a luz inaugural e pé ante pé saí. Nada é nosso e talvez por isso aceitei, grato, o empréstimo e lembrei-me dum verso que dizia: "inventei um sol para dar luz a este dia, acordei nos braços da alegria" e é verdade...

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2014)

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