quarta-feira, 13 de maio de 2015

Onde?

Onde está a tua mão?
Lembro-me que a tua vinha buscar a minha e pelo caminho dos braços à cama tirado entrávamos o mar. 
Onde está a tua segunda mão? 
Lembro-me que escorava o meu corpo que trazias à taça da boca.
O sol arde a pele e há demasiado azul no céu; sabes o quanto me derrota a planície da memória sem a água precisada. Lembras-te!? Pedia-te as mãos para agarrares o medo no seu galope desafrontado e eu sempre assustado; bem vês toda esta vastidão do mundo e aquela praia a sul na sua noite onde os teus olhos me ouviam está tão, cada vez mais tão longínqua. E juro que a trazia comigo com carinho como a tudo o mais que me chegavas. 
Onde guardas a cama do meu corpo? Parece-me cansado do tamanho imenso da madrugada na espera da tua chegada demorada. Durmo o meu corpo (na vez do teu) sem a noite em que nos líamos de luz apagada. 
Lembras-te duma história que me contei julgando-a inventada: aquele barco que fez de nós viagem e os teus cabelos revoltos na cortina dos olhos meninos que traziam colo e a amurada onde tudo se expandia na dor da alegria da pessoa que se sente amada. 
Por onde, para quem os teus olhos para mim? Dos teus olhos o seu olhar ou a sua água de praia-mar a lamber em ternura os pés à chegada. As coisas vão-se arrumando e há regressos emalados, todavia não há albergue capaz para o que se destamanha e confesso... 
Confesso-o, miúdo na falta apanhado: nem tudo fiz como me pedi: quando foste... bem... foste e ainda não te devolvi, nem eu a mim. 

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)




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