quinta-feira, 21 de maio de 2015

Dizer

Já te disse que te amo?
Ainda que o diga, creio que é sempre menos uma vez do que devia; não por dever, mas porque uma vez dito parece que tem uma sorte de caducidade breve. 
O rio é a sua própria água muitas vezes a sua própria água. Se da boca o dizê-lo como da nascente o verbo, se escutá-lo como da foz o ouvido, então dizer o amor é como dizer a barca que, por sobre as águas, nos caminha. Dizê-lo é uma remada ganha à que se lhe adianta na falta. Daí que diga que amar-te é sempre a manhã de amanhã ou o pretexto do outro dia. Pelo menos um dia mais. Só isso; sempre mais um dia, apenas; dia-a-dia; o dia seguinte. O dia que adia o que não queremos último.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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