segunda-feira, 4 de maio de 2015

Agora

Quando dizia 'manhã' era a manhã que mo dizia. E de facto era manhã o que prometia. E a cama era uma saudade que se cumpria no ar da rua da janela que se abria. E eu ia. Ia p'lo caminho novo que sorria. E quando chovia, assim como hoje, como a manhã de hoje, como no preciso momento de agora, abria um chapéu que havia, todo ele de céu, todo ele de azul poesia, e eram lágrimas de alegria o que dizias. E era um contentamento molhado de roupa despojado e lembro-me como se hoje, como se agora, como se por dentro, que ambos, jograis da nossa própria folia, corríamos a agarrar ontens e amanhãs para que aquele momento; para que fossemos apenas e só aquele momento. A saudade não foi ontem; a saudade não foi amanhã. A saudade é esta manhã; esta manhã de agora. Agora.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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