domingo, 31 de maio de 2015

Corpágua

Os corpos pedem água. 
Os corpos pedem mãos que os comecem.
Pedem corpos que dêem corpo ao seu. 
Os corpos atravessam os dias 
E as noites dos dias e pedem água.
Os corpos naufragam e revivem na superfície da pele: paisagem longa, a perder de vista... 
A pele pede água e pede a boca que a beba, gota a gota.
Os corpos sustentam, cada um o seu, o nome que trazem. 
São livros e mapas de caminhos pregressos.
Os corpos nascem 
E morrem em si: sós. 
E pedem água: a dos teus olhos, 
A do rio dos teu olhos, 
Do mar dos olhos teus. 
O seu líquido olhar.
Os corpos são prazer e abandono: campos floridos porque há sempre flor (de dor) no chão queimado. 
E as flores pedem água... 
Os corpos falam no seu silêncio e têm recantos, lugares secretos e zonas inaugurais. 
Os corpos partem e deixam a âncora do nome. 
O nome. O dele e dum outro, a quem lhe pediu água...
A das lágrimas...

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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