quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Diário III

Por mais diminuta escassez ou no excesso 

Incontida pletora somos os dias; o primeiro 

O último os de permeio; por mais que deles 

Se faça devido ou indevido uso eles passam.

Por nós dentro, assim como o mar nas areias 

Que o cercam. E somos as rotinas que temos 

E mais as somos quando as desfazemos. Por 

Mais novo que o novo seja em anúncio prediz

O velho; este diz quem somos. Não porque se 

Morra, um nada em si, mas porque de viver se 

Deixou. Tão desigual é dizer sul ou dizer norte.

Por mais andado ou parado há movimento que 

Se faz por si. Na maior das casas e entre estas 

A mais rica há pobreza escondida, em casa de 

Gente pobre e dentre estes os paupérrimos há 

Improváveis alegrias. Por mais aberta que seja 

A planície trago cercados, por mais prisioneiro

Vento a liberdade. Por mais que insista desisto

Por mais que desista persisto. Por mais amor o

Fim do mundo é o lugar ao lado e há o consolo 

De dizer sem que saibas ou me oiças teu nome

Enquanto houver frondosas sombras de árvore

Ou a orla do mar dilo-ei até me cansar; foi tudo

Ficámos eu. E digo o teu nome e ergo-o à boca

Sua altura te beijo. Ficámos eu; aí no lugar que 

Vim. Ah o passado! E vai dizer à ave que ferida 

Voa sangrando nos céus impossíveis matérias 

Do sonho que pare! Dizei tu como este decaiu;

Não o direi; mesmo se exangue uma, são duas 

As asas; essoutra inteira ainda reclamando dia.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

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