quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Há chuva no teu rosto

O sol pede o fora, a chuva o dentro. 

O dentro-fora dum alpendre, duma 

Janela cuja vidraça reflecte este lar 

Ou esse. Afetos, como as primeiras 

Mantas, um abraço que vem detrás 

O assobio da chaleira ao lume, chá 

Quente em bules de avós falecidas

O piano das gotículas nas vidraças 

Ó paz uterina da água do céu regai

Os chãos a terra a rua os telhados; 

A nós sequiosos porque o sol abre 

Campos planos rente dor saudade.

A chuva canta o silêncio como voz 

Mater vinda de fora e nos convoca 

E nos demora na cama o amor que 

Nos ficou ou que partindo ficou ou

Que ainda não chegou como a flor

Se parece ao copo d'água do beijo

Assim a chuva baptismal é altar do

Mundo breve. A chuva o teu rosto;

No teu rosto molhado, roupa chão

Seu despojo, há corpo que é meu 

No ínfimo momento do abraço em 

Que te fecho e sinto aceso desejo.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Sem comentários:

Enviar um comentário