segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Aportagem


São barcos que aportam

Antigamente é fruto futuro 

Da árvore caído e pescadores

Com suas redes trazem o peixe 

Arrancado ao mar e a tua mão lá

Para apanhar o que de moto próprio 

Se liberta e viúvas e seus lutos a saber 

Ao sal de quem foi para não voltar e seu 

Sabor de o comeres já sem Deus, nem pai.

E nas areias, toalhas de renda à beira do mar

Aves debicam sobras; antigamente o segundo

Éden teu corpo nu, num arco perfeito, requebra 

Em modulações de prazer, bandoneón seu som 

A boca quente, espasmos verbais e em silêncio 

Os barcos em terra, secos sem viagem, e seus

Timoneiros em casa ou no fundo do mar, cuja

Dor seus ais são laivos tristes dum vento que 

Venta quando já ninguém lá. Antigamente eu

Tua árvore, do teu sono a sombra para que 

Me sonhes. Há-de haver fome; ali deitado

Te deixo, menino cansado. Irei à faina do

Mar para que traga o saceio à boca das

Fomes, não de alimento as maiores. E, 

Se não voltar, acordai e voltai a amar.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

Sem comentários:

Enviar um comentário