sábado, 28 de março de 2015

Teatro do mundo

Se bem reparares as aves têm rumos que deixam no ar traços de pleno voo. Sim, há segredos. Se bem repares os corpos dão-nos mapas são caminhos: da boca à boca, das mãos às mãos, dos olhos os olhos. As árvores encimam sombreiam vestem-se e despem-se da folhagem e são estações quatro vezes por quatro distintas razões de ser uma só. Os rios são do mar e ambos num só são lugares para que possamos nadar as nossas próprias correntes e delas nos libertarmos, desenhando a traços de espuma rumos com verdade. 
Sim há segredos! Se bem reparares os corpos falam: a boca nascente da boca, a mão abrindo-se da mão e os olhos em flor. Se bem reparares cavalos bravos e livres com suas longas e horizontais crinas de vento sulcam altivos e verticais a invernia e o chão, como um tambor, repercute a leveza da dança pagã dos seus pesados cascos e rumam alados com as suas inexistentes asas aos esplendores dos céus. 
Os corpos são segredos: fundem-se e refundam-se num bazar de bocas, mãos e olhos; são cordas instrumentais que produzem sons de amor e clamor. 
E ressoa uma voz, a voz mesma que convoca os dias e as noites, que nos concede e tira que eleva e derruba que nos dá o alto e o raso e, por fim, se cala. E somos sós e meninos e medo mudo no esplendor do grande segredo do teatro do mundo.

(c) Filipe M. | texto & fotografia (2013, 2015) 






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