Oculto-me no que revelo
Produzo margens
Simétricas margens
Margem com margem
Eu deste lado a ver-me deste lado
Eu deste lado a supor-me o outro
De lá para cá e de cá para lá
Como se fosse o mesmo uma e outra coisa, sabendo tão bem que assim não é;
Vendo-me vendo-me (e só)
O rosto une desiguais
Metades
O meu rosto é um rio
Produzo rios quando olho
Produzo mares quando digo
Produzo os nomes dos lugares
Entre mim e ti há a vírgula
Do corpo de permeio
E nós o meio
E nós metade
Sem verdade, nem vontade
Nós outrora
e o canto breve e alto das aves
Nós primavera a pairar e nós um arco de lado a lado para que nos víssemos passar a nado num rio certamente inventado, um de cada vez, uma e outra vez, de lado a lado
Da margem, esta ou daquela, há já tanto tempo que do tempo dessa água se fez sol em nuvens de sonhos condensados
E produzo chuva
para que
de novo
nesse
lugar.
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