segunda-feira, 16 de março de 2015

Diptíco (I)

Meu amor, saí cedo. Talvez não tão cedo assim. Saí. Deixei tudo como gostas (ou penso que sim). Deixei as coisas nos lugares certos; o resto trouxe comigo. Andam comigo, as coisas; são leves de peso e pequenas de tamanho, ainda que a um tempo me sejam leves e noutro pesadas, umas vezes pequenas, outras tão grandes. Ou peso-lhes e tamanho-lhes eu; não sei bem. Saí porque a boca tinha o travo do alcatrão: palavras que não se fizeram caminho. Bem sei, as palavras não existem. Mas creio que relatam o que existiu e assim sendo, existem. 
Houve uma ou outra coisa que se partiu; enfim, parte-se sempre qualquer coisa. O zelo foi o de sempre mas talvez estivesse nervoso, não sei bem. Deixei tudo como supus que gostas. Era noite sabes, a saber a manhã e talvez assim o pense porque é luz o que pensamos na escuridão. Tentei não acordar-te; sim, dormias. Sair dá mais medo que entrar. O trinco faz um clique e somos o lado de fora. 
Um dia disseste 'tenho sede' e nesse dia fiz-me água. Nesse dia disse-te 'mas e os copos,  Amor?' E disseste 'os corpos'! 

(c) Filipe M. | Fotografia: Lisboa, 2014. 




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