quarta-feira, 27 de julho de 2016

Inquietações

Até uma determinada altura, pude
Exactamente o quê não sei bem e
Não sei bem exactamente o que 
Deixei de poder. Enfim, bem sei 
Que um fato não é peça única 
E que é o anonimato da linha 
Que cose as partes que lhe 
Dão aquela junta aparência 
E quando saímos da linha lá 
Se vai a compostura; vai daí 
Andamos aos papéis, porque
Precisamente sem nenhum! E 
Ainda que entre o que pude e 
O que não posso agora, possa
Haver uma distância ínfima que 
Caiba na cabeça menor e maior
Que seja é ainda assim abissal o
Transtorno. Transtorno porque se 
Interrompe a marcha e transtorno 
Porque deixamos de perceber seu 
Sentido; isto é: porque a fazemos e 
Um clássico o donde e o para onde! 
Quando deixamos de poder espanta 
Como pudemos. Se houver por acaso 
Retoma a perplexidade ganha sentido 
Inverso: como pudemos ser incapazes
Quando já tão capazes somos. Questão: 
Ainda que saiba as somas destas razões 
Que conduziram àquele ser incapaz disto 
E daquilo falhamos sempre o minuto zero! 
Mais que tudo é essa imprecisão do tempo 
E do teor: a dupla indeterminação frustante. 
Porque fomos capazes e depois incapazes!?
Em que preciso momento uma coisa e outra?



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

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