quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

da cara...

Às vezes a cara fica-nos nas mãos. Repartida entre uma e outra, assim como são dois os olhos, cada uma dona da metade do todo que vemos. E no afago ou no aperto doutras se espalha o ver assim como as abelhas que, de flor em flor, semeiam em ventos outras vindouras flores e estas semeiam as abelhas de ir e vir  Às vezes os olhos cruzam-se com outros, par com par, ou uma ponte por entre margens, e nasce um olhar coisa diversa do ver. Assim como barcos ensaiando o desfecho do líquido caminho mas represos pela âncora que de tão funda não se dá a ver. E do olhar o advento das mãos, que, de par em par, constroem corpos que se beijam como se falassem como se fossem corpos na vez de corpos. E as mãos vêem o invisível e vêm à tona da pele dizer da ventura do prazer e do inaudito do amor que se faz, assim como as abelhas fazem flores e estas fazem abelhas. As mãos sobem aos olhos porque vêem como se tocassem ou, como charruas, inventassem caminhos que dão para caminhos que dão para mais caminhos ainda, pretextos para caminhar os caminhos dos lugares de lugar nenhum pois que somos apenas o que soubermos sonhar. Sabemos todos que os olhos do olhar ventam os campos e estes convocam os moinhos as flores e as abelhas e que os peixes voam assim como há pássaros a nadar; sabemos todos que entre dois olhares há uma tela em branco para que tudo se possa inventar assim como sei que existes e por isso nos damos nomes para nos chamarmos para que da palavra nasçam os olhos para que nasçam as mãos e troquemos de corpos assim como as abelhas são flores e as flores são abelhas. Às vezes cabes-me nas mãos e trago-te no olhar e por isso te digo: dizem o meu nome quando sou o teu.

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2014). 

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