quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Aniversário (II)

Duarte (Nuno) não sei responder às tuas palavras de hoje que me vestirão para sempre nas piores invernias, por isso dedico-te a carta que vou agora enviar ao Hélder.

"Meu pai, estou feliz porque sei que estás feliz porque o teu Pipo (não te zangues: agora quem me gosta pode chamar-me assim porque são vozes da tua voz primaz) faz anos; completa-os. São 46 que terminam! 47°, bem-vindo (tem 7, soa bem!) E gosto, fico mais perto de amar melhor, de me perdoar e de compreender melhor os outros. Pai há tanta gente a gostar de mim; eu sabia que sim: não tinha percebido era que eram tantas e tanto o seu gostar. Estava zangado quando disse que não tinha sonhos; tenho. Todos realizáveis. Porque todos pequenos de enormes que são. É por isso que as sombras são o voo da matéria: um corpo servido por asas. Chorei hoje no rio onde moras e depois percebi que rio é também um modo de rir e por isso ri e sorri. Estas pessoas de quem gostas porque me gostam disseram-me coisas lindas e vestiram o dia que temi incolor com cores que o arco-íris apenas começa. Com a idade vamos precisando de menos coisas e chegam a mim os aromas das suas essências. Da materialidade necessária à condição feliz se se viver chegam-me ecos tranquilos do horizonte de imaterialidade duma mala (com o estritamente necessário) que faço grato. Ensinaste-me que as pessoas que nos querem bem são janelas que se abrem por fora. Hoje emprestaram-me uma mansão para que as janelas fossem muitas; não para me fazerem esquecer duma tristeza que trago numa humanidade que vivo inteira mas para que a vivessem comigo. E sabes, era como se cada telefonema, cada mensagem, cada gesto, cada presença (e a tua: tão antes, tão durante, tão depois e tão depois do depois) me alijassem o peso. E estou leve e por isso pude subir ao céu para te beijar e mergulhei ao mar para te abraçar. Minha mãe: os teus olhos e os teus braços fazem par com o par dos dele. Não na vez dele mas com e por ele. Nuno, mano, sobrinha e Patita proas deste meu barco. Aos que me amam a minha gratidão pelo amor que me dão e, se possível, mais ainda, por me ensinarem a ser um mundo inacabado para que este se abra aos mundos dos mundos. Hoje sei que o grande desafio que se me coloca é o de saber receber, mais do que saber dar (Helas!) Não para me tornar vaidoso, mas para destruir, espero, a subtil arrogância de querer ser transparente. Vocês todos são os meus óculos 3D, avatares da poesia do real. Bjos & abraços para todos vós e sejam felizes de felicidade real. Pai vou-te dando notícias minhas e de todos. 
Beijinho
Pipo 
8 de Dezembro de 2015 ❤️"

(c) Filipe M. | texto e fotografia (2015)

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