sábado, 12 de março de 2016

Excepto eu

Eu disse a palavra e fiquei de 
Silêncio para ouvir o início do 
Seu som. Exactamente como 
Uma onda lambendo a costa.
E a palavra inflama o metano
Do ar e acende-se no quarto
Um pássaro ou nesta cabeça  
Mas as vogais não se abrem 
No escuro da exiguidade. Há
O espaço a pedir respiração 
Para que as asas expandam
O sentido que trazem e daí
Não inteiramente a palavra 
Diáfana de cor arrebol das 
Coisas intermédias o meio
Duma coisa e outra. Sopro
Angustiado é de asas que 
Se faz o som encurralado. 
É debaixo disto a cantiga:
Um rosário de cantos de 
Choros baixinhos duma
Dor continuamente dor
Sem nunca tão grande 
Para além disto assim. 
A palavra tem rotação 
Mas a maquinaria do 
Amanhecer retarda
O seu voo e janelas 
Há do lado de fora 
Como outroras que
Se traz na algibeira
Berlindes e abafas 
Para o jogo acaso. 
Mas preciso esta!
Vê-las não me dá 
Esta deste agora. 
Eu digo a palavra
Mas meeira não 
Me disse o hoje.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

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