sábado, 26 de março de 2016

Colherada

A colher caiu ao chão e ficou triste por achar que voava. 
Quis andar. Ficou parada e mais triste ainda; achava que 
Andava. Não percebera seus fins, por isso também seus 
Próprios meios. É coisa de ir da mão à boca ou teleférico 
De alimento da papa quiçá primeiros momentos doutras 
Histórias d'alento porque dos condimentos certos se faz 
Crescimento e talvez que chegados nós a velhos filhos e 
Netos haja no cimo e no baixo, comandantes na carlinga:
Nós as bocas e eles as mãos que doutras bocas já fomos. 
Sabendo isto a colher percebeu que eram não estes voos 
E passos seus sentidos certos e com tal alegria se deixou 
Pegar, lavar e enxugar. Daí a nada descolava o novo voo 
Cargo de menu diversificado no novo contentamento do 
Saber-se colher tão útil como se soubesse voar ou andar.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

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