quinta-feira, 14 de abril de 2016

Bang, bang!

(I)
A bala na linha de saída: 
palavra assestada ao 
alvo; projéctil mortal, 
ponto fatal. 
Bang, bang! 
Corpo ao solo...
 
(II)
Saber-me, talvez por instinto, 
acometido duma morte exangue; 
sem autor material. 
Toda ela escorrendo por dentro, 
desaguando na periferia doutro 
lugar onde a escuridão só. 
O cérebro, com inteireza de
sentidos, rememorando 
vagarosamente o momento 
imediatamente antecedente: 
aquela boca (estou certo disso: 
a tua boca) numa tensão calada, 
a represar o que haveria de sair! 
Um sorriso; melhor, um esgar de 
cão na intenção do bote. O olhar, 
toldado, na predição exacta do 
inevitável e daquela boca 
[garganta; língua; lábios; saliva] 
surgir como uma bala cuspida
a palavra há muito esperada: 
acabou. Finito. O coração 
perfurado de lado a lado.
Merda!

(III)
Sem corpo, desapossado de mim 
e de ti e, sequer, por sorte, um par 
de óculos escuros: vestem ─ quem 
vê e é visto! O mundo como nunca 
o vira , porventura demasiado real: 
outrora… outrora… outrora…
O pano desce num aprumo vertical: 
FIM.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

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