terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Eventualmente

Sim; isso, eventualmente. Restituição. Como

Se me sentasse breve a teu lado num banco

Do jardim, algures. Percebo que envelheço - 

Outrora lugar de velhos a sessão da matiné

Seu equivalente e agora cada vez mais meu. 

Mais de mim lá; crónica dum lugar onde me 

Aporto como naquele dia tem dois invernos 

Já em que chovia tanto o tamanho a tristeza 

Que trazia vi para lá de tudo alguém que me

Sorria eu mesmo dum verão avante dizendo

Outros claros dias dessa água chorada, céu

Que nos olha e vela quando lhe imploramos 

O não-lugar o anti-nós. Um outro como não 

Fosse possível mais. Aquelas escadas onde 

Desabei e jurei, jurei nunca mais, um minuto

Apenas, eternidades de curta conveniência, 

Que não voltaria à ucronia do teu tempo. Vi 

O redor. Ao vê-lo, coloquei-me lá: na chuva

No verde, copas bailarinas aspergindo água 

E esguias de espera; fugidias pessoas acolá 

Ilustração vagas, encasacadas nos lutuosos 

Guarda-chuvas. E dei-me. Chovi, chorei e ri

Um fim de mundo na borrasca monumental. 

Depois parou. Parou. Parei. Sentei-me vazio

Exausto. Restituído. Sentindo os pés irem no 

Curso da água rente escoando-se no asfalto 

Em declive, um espelho aquoso a cintura alta 

Da cidade vagamente reflectida. Falo contigo 

Outrora vivo, e sinto a tua mão sobre a minha 

Num afago seda distraído até me acalmar no

Torpor embalado. Tu, ao longe num lugar teu 

Podes sorrir não há culpa em seres feliz após. 

Faz mossa, claro que sim mas sigo a maré na 

Cidade e vou, vou indo se for chegarei. Nada 

Se conclui. Há o aberto do fim e se principia.



(c) Filipe M. | texto e fotografia (2016)

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