A porta sendo uma porta
Importa tanta coisas mais
A porta é um abre e fecha.
Uns entram, outros saem, ela
Assim fica, conforme a deixam.
Aberta tudo permite em devassa;
Se fechada impede quanto impele.
A porta não é espaço, é vírgula que
Divide o espaço. A porta suporta seu
Bater com calada dignidade. E ela que
Tudo houve (ah se falasse!) é da humana
Surdez tão injusta metáfora. É, se servida
Em dose meia, conversa de amigos ou de
Escárnio com tão mal-dizer; já meia-porta
É meia medida do que se esconde e destapa.
Se ficar à porta é signo que dá dó de desgraça,
Já o ficar-lhe atrás faz de quem assim o faz vil
Intriguista e só aquele que nas sortes do amor
Tão cruel revés sofreu. Porta que tudo suporta,
Comporta-se com denodado porte vertical e é
De porta em porta que se faz o nosso mendigar
E de quem as abre gestos largos de bondade
Entrada maior se é do árduo caminho do Alto
A ditosa fala porque às Portas do Céu vamos
Todos um dia bater se a boaventura nos levar!
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