sábado, 11 de março de 2017

[Retoma] 🖋

Naquele instante preciso, algo triste.

Um gesto quase toca a corrente d'ar

O prumo da luz vitral amorna a tarde

Superfície da pele do corpo imaterial.

Ao redor o vozear contido e regentes

As mãos do fraseado dos lábios cujo

Movimento acompanho vago. O café

Desprende volutas de vapor, biombo 

De momentânea distração passando

Por aqui e ali. Como alguém a fechar

Uma janela ao frio do inverno e volta 

Ao dentro da casa e afazeres diários

Um aquário com vista ao céu e voos 

De pássaros de mar em terra à vista 

Horas de langor de curta eternidade 

Tudo parece quieto, insolente gesto 

Mínimo que seja como um amante a 

Adiar o deslaçar dos corpos em par.

Não tanto pelo facto de estar tão só

Nem por dó de si. O afago lúcido do 

Por fim ou do ainda não (ou o talvez 

Jamais) coloca-te perante ti mesmo

E a especulação tentadora de quem 

És e foste ou o que para ti reservam 

Os dias vindouros. Feliz é o instante 

Momento inteiro o círculo que fecha 

Logo o que começa, além disto tudo 

São grilhetas. Descentro-me resisto

À tentação do Eu. Recomeço em dia

P'lo que me dás a ver retomo alegria.


(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

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