sexta-feira, 3 de março de 2017

[Devagar]

Ainda é dia oito. Importa pouco o mês e ano. 

A lombada dos livros o piano das tuas mãos;

Ressoa o silêncio: partitura doutras melodias

A pedra atirada ao rio já não arredonda como

Ainda há pouco (ainda é dia oito e um relógio 

Tic-tac-tic-tac) a água-rio dança em círculos 

Crescentes. A água reganhou a superfície lisa 

E a pedra acamou no leito. É curioso meu pai:

A mesma pedra no mesmo rio e há medo de

Que a paz que nos dizes não a entenda eu.


Ainda é dia oito e há relógios: o meu o teu o 

Relógio da sala, sentinela do tempo laico da 

Casa, agora todo de Deus: Campanário Alto 

Onde não chego eu. É Seu o 'Sino da Minha 

Aldeia'. O piano dos livros, o tic-tac-tic-tac 

Dos relógios dos pulsos das mãos. Os teus 

Olhos olham cada vez mais e acontece tua

Boca ter ("já gastámos as Palavras pela rua 

Meu amor") caminhos emudecidos. Ouviam 

tanto os teus olhos. As lombadas dos livros, 

Os teus óculos, vês melhor sem eles! Vêem 

P'ra lá disto e não o saber eu sabendo-o eu.

Os meus cruzam os teus e não falamos por 

Isso ou não, dura esta conversa. Já tirámos

Os relógios? É só amanhã que te tem Deus. 


Tic-tac-tic-tac! Os livros: ando a ler as tuas 

Mãos de papel. Ouves o som do piano? São 

As minhas mãos a tocar cada lombadada. A 

Ter-te devagar. Tic-tac-tic-tac. Já é amanhã?




(c) Filipe M. | texto e fotografia (2017)

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