domingo, 28 de dezembro de 2014

Dezembros (2013)

Recebi-a educadamente. Fez-se da casa como se dum velho amigo se tratasse. Mas enfim...tinha bons modos, pouco ou nada se fazia notar. Melíflua, prestável; foi ficando. 
Tomou, na sua transparência, paredes, portas, soalhos, tectos e janelas. Depois, gestos, palavras, sonhos. Os dias tornados meses. 
Crescia, assenhoreava-se (sempre com bons modos; irrepreensíveis modos! Delicados modos!) decrescia eu: em palavras, em gestos, em sonhos. 
Era o avesso do fato com que saia ela à rua na vez minha. Sombra assimétrica. Descompasso. 
E era já ela tanto e eu tão pouco que toda ela já era a casa onde quem já não cabia era eu. Ficou lá a morar a tristeza (seu nome) e vim morar para as ruas da alegria. 

(c) Filipe de Macedo / Fotografia: S. Paulo, Lisboa. 

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