Eu trouxe-me ficando
Agora que não ouves
Digo as palavras que
Já posso Que te amo
E sempre que houver
Brisa, verei teu rosto
Cabelos de vento eu
Beijo na manhã cedo
E nesta ilusão malsã
Brilhas ínsua d'anelo.
Eu trouxe-me ficando
Agora que não ouves
Digo as palavras que
Já posso Que te amo
E sempre que houver
Brisa, verei teu rosto
Cabelos de vento eu
Beijo na manhã cedo
E nesta ilusão malsã
Brilhas ínsua d'anelo.
Quando coubémos o dia que o tamanho da tua
mão trouxe, soube que nos fazias teu o mar que
amo para que pudéssemos chorar sem ninguém
ver e sendo assim tão teu no-lo deste para que
pudéssemos vestir e alimentar-nos para fazer a
Rota: levá-lo em paz no Amor à sua Eternidade.
[Foto: Nuno de Vasconcellos, Madeira - 2016]
O habitar-te o rio; por mais
Que mo diga, por mais que
Mo digas, há um rio que não
Me sei dizer tão vasto ele é.
Um rio cujo casario encima
Para que te possa ver. Um
Rio que confina no rente
Mar. Ambos o saberem
Que te vou encontrar
Há o rio na morada
Do Tejo, nome pai.
Era como se tivesse saído do curso
Do rio e o percorresse inteiro pelas
Cesuras das baínhas; são margens
Calças arregaçadas de água fresca
Salpicadas, um sorriso a montante,
Baptismo festivo do novo dia nado!
Hoje é domingo de manhã de há um ano;
Hoje é verão do mesmo canto de agosto;
Hoje trago a flor branca que levo do mar;
Hoje, como ontem, meu pai eternamente.
À boca da nascente, nascemos todos rio em
Penhor da foz; metonímia do mais vasto mar.
Todavia, há aqueles cujo viver gera margens;
O caudal é forte e nem sempre os braços se
Afoitam. Acontecem ficar represos e laterais.
Indevido curso. Um apeadeiro é descaminho
Se se faz lugar mais do que breve. Marginais
Dizemos embarcados!! Descreio. Corre-lhes
Dentro o rio sem rumor para nós tão surdos!
Nas pausas, no que se interpõe, no que se
evapora, no que se aquieta, no que se cala
Vêm, vagorosos de tímidos, de antanho, os
Sons que tecemos: um tear que montámos
De braços, de abraços, das palavras: bojos
Da Arca de Noé para nossas justas viagens
Um beijo a quatro lábios e d'olhos pintados
Pretextos vagos de sermos frente-a-frente
O sabermos e do medo que temos inventar
Um dia que o destrua e tocarmo-nos. Dois
crentes; no recreio a vida seus lápis de cor
Que trazemos no estojo dos olhos e beijos
Dados são agora pássaros que voámos no
Céu inda agora desenhado, onde cabes tu
Agora na varanda da eternidade. Eles vêm
Por nós trazer-nos seus sons musicais, as
Mãos em oferta que nos afagam, amando.
Nascidos os frutos, árvores
Trouxeram a nova estação.
O beijo caiu sobre a pele.
Não imagino coisa mais
Bela tua ceara: a noite
Escura à Lua despida.
Este momento; este tão íntimo momento; tão curto
Tão longo aqui dentro momento. Um murmúrio um
Véu sopro do céu tua mão como a quilha do barco
Quase imóvel de movimento sentindo a corrente e
Sabe agora o segredo mais fundo, fecundo corpo
O dirá a um outro quando a hora chegar. O tempo
Do silêncio, do vento, da canção cantada, embalo
Maternal quando no fim tudo começa. Um timbre,
Repercute no ar límpido o som da nota da aurora
E em seu voo há os meus dedos a desenharem o
Teu lábio e uma segunda vez o teu outro lábio da
Tua boca são notas, partitura do meu mundo teu.
E cantas a nossa mais antiga canção. Inventando
Possibilidades, demos as mãos e começámos os
Corpos devagar; deixámo-los falar. Nessa espera
Fizemos amor para o dar no momento das sedes
Sim, virá o tempo até que por findo o tomaremos
Por tão longo, por tão curto, por tão isto e aquilo
E nesse instante, no ponto agudo, haverá a água
Para a bebermos na torna-viagem de morrermos.
A uma luz evanescente
Vemos mais agudamente
Que à da candeia que fica.
Algo há na fuga silente
Que aclara a vista da gente
E aos raios afia.
[Emily Dickinson]
(Trad. Jorge de Sena)
Uma cicatriz. Como se uma porta entreaberta
Discretamente se fechasse, deixando presa a
Peça de roupa da véspera dum corpo d'amor
Que desaconteceu e paira procurando outro
Lugar. O ombro superfície lunar e a sua mão
Plumitiva dizendo murmúrios na longa costa
Da tua pele; uma crónica que escorre que se
Espraia em vontade e rumo próprio o para lá
Das minhas mãos que desembarcam no que
Viajam. Restituição? Ah não Nunca o mesmo
Lugar, tão-pouco o olhar. O dique represa as
Águas; mas, uma vez libertas, tudo apagam!
O silêncio aguarda a fala
No céu, azulando a noite
Há o prenúncio das aves
Nos lugares mais altos e
Os galos de quintais dão
As horas matinais. Junto
Ao rio, daqui uma nesga
Escrevi a crónica da paz
Que sinto pelo que vejo!
Agora vai parecer muito tempo
Este instante em que olho para
O que falta como infinito curso
E, ainda que não saiba o modo
Nem o tempo, é demasia tudo
O que sinto. A linha curva fará
Um arco de fecho; no prelúdio
Olhar o soubesse breve assim!
Entre nós interpôs-se o corpo;
Essoutro privando um do outro.